20 setembro, 2022

A DIVISÃO DAS PESSOAS

 


Andei como só os vagabundos andam, não tinha ilusões, não tinha destino, andei por andar. Nessas andanças sem rumo vi gente de todos os tipos, vi vagabundos pobres e ricos, favelados e moradores de mansões. Vi a divisão que existe entre as pessoas e os desencontros de todos os dias. 
É muito fácil perceber essas divisões,  as pessoas se dividem pela cor, pela religião, pela cultura e pelo volume do bolso, e o aspecto físico também diferencia.
Os que fazem parte da minoria que nos governa e nos explora são os das chamadas classe A que vivem de barriga cheia e alimentam seus cães com iguarias que a maioria dos pobres gostariam de comer para não morrer de fome.  As pessoas da chamada classe B, mesmo com muitos atropelos ainda conseguem levar uma vida quase normal. As que fazem parte das outras classes  ou de nenhuma delas, vivem das esmolas que os políticos corruptos distribuem para angariar votos em todas as eleições. Os remediados e a grande maioria dos que não tem classificação porque estão abaixo da linha da pobreza, são os que sustentam esse país pagando juros abusivos,  e mesmo assim, vivem honestamente tentando dar um jeitinho para não perder sua dignidade.
Os ricos, a minoria que detém toda a riqueza do país vivem preocupados em ganhar sempre mais.
Hoje não tinha médico no posto! 
Não tenho dinheiro para comprar esse remédio.
O que vou comer? 
O que vou vestir? 
Não tenho dinheiro para a condução! 
O gás acabou! 
O aluguel vence amanhã!
Essas frases são constantemente pronunciadas pelos partidários da fome e pouca gente se preocupa com elas e com quem as pronunciam. E os políticos criam tíquetes disto e vale daquilo que são distribuídos a seu bel prazer como moeda de troca eleitoreira.
Estou com fome!  Muitos meninos e meninas foram surrados ao pronunciarem essa frase e nós falamos que o pai e a mãe são estúpidos.
Talvez alguns realmente sejam, mas nos coloquemos no lugar daqueles que trabalham e quando recebem seus salários percebem que mal dará para pagar o aluguel. E os que não conseguem um emprego e não sabem o que é salário? Quando uma criança sai para esmolar dizemos que é um absurdo, mas quando o pai ou a mãe se humilham esmolando para matar a fome dessa criança somos os primeiros a chamá-los de vagabundos dizendo que são fortes e podem trabalhar. 
Pedir esmola pelo amor de Deus! Mesmo em nome de Deus não existe nada mais humilhante. 
Alguns de nós ao chegarmos em casa na hora do almoço já recebemos a notícia que ele não foi preparado porque o gás tinha acabado e não havia dinheiro para comprá-lo?  E alguns dizem: por que não cataram uns gravetos e acenderam um fogo? Como e onde fazer isso todos os dias? 
Alguns de nós já fomos para cama tentar dormir sem sequer termos tomado um simples cafezinho durante todo o dia? 
Ficamos indignados quando os noticiários jogam na nossa cara as imagens dos famintos nos países mais pobres do mundo, como os da África, por exemplo. 
Eles existem! 
Os países. 
Os famintos! 
Nesse país do desperdício chamado Brasil não é preciso ir muito longe para ver essas cenas. Bem na nossa porta tem alguém passando fome e não adianta fazer mutirão para arrecadar alimentos. Isto é muito salutar, mas é como febre e passa logo. É preciso dar dignidade e condição de vida para que o nosso povo pare de viver de esmolas. 
Os ricos não se preocupam com o amanhã.
Fome! Esta palavra há muito tempo deveria ter sido banida dos dicionários. Existem muitos campos abandonados e muitas terras a cultivar e no mundo  inteiro se fabricam armas e constroem robôs que substituem o ser humano nas grandes empresas para diminuir o custo da produção e aumentar os lucros, e em contrapartida, os custos sociais com o desemprego e o desamparo dos trabalhadores vão produzindo mais miseráveis.
Os pobres vivem de esperança, e com fome não dormem.
Esperança! 
Esta é uma das raras vezes que os caminhos se cruzam. Todos nós vivemos de esperança e ela só poderá vir de Deus que sempre nos mostra por parábolas que a estrada para a luz pode e deve ser percorrida por todos, e que a intensidade do seu brilho vai depender da maneira como nós tratamos o nosso semelhante, e que para sermos atingidos por este brilho precisamos diminuir a distância que nos separa, para quem sabe, um dia, podermos ser acolhidos no abraço da ternura que nos criou à sua imagem e semelhança. 
Que no relacionamento de amor a palavra dividir seja usada somente para repartir os bens. Que no relacionamento da fraternidade todos sintam-se incomodados quando uma pessoa estiver passando fome ou sofrendo qualquer tipo de humilhação E que não haja mais divisão entre as pessoas e que nenhuma criatura se sinta maior ou superior a outra.

2 comentários:

  1. Olá, Geraldo.
    Vim até aqui , através do blog, Ausente do Céu.
    Escolhi em primeiro esta sua publicação, por ser um murro no estômago.
    "É preciso dar dignidade e condição de vida para que o nosso povo pare de viver de esmolas. " palavras suas, que faço também minhas.
    Cada vez mais pelo mundo se vê aumentar o fosso da desigualdade, da injustiça, da indiferença e da maldade.
    As suas palavras, também se aplicam ao que se passa pelo meus país.
    Tenho amigos brasileiros a viver em Portugal, que já dizem que por aqui está a ficar muito igual ao Brasil.
    Como é possível, haver tanta desigualdade, tanta fratura humana.
    Viver com dignidade devia ser muito mais que um conceito.
    Confesso que me assusta toda esta "naturalidade" em aceitar que os ricos fiquem cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres "
    O mundo precisa de um novo rumo e eu receio que não seja para um futuro próximo.
    Deixo abraço e brisas doces , Geraldo.
    E vou passar a escutar Uma Voz de Betim*

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  2. Olá. não tinha percebido que os comentários que deixei , estavam como anónimo . Não gosto nada.
    Abraço e brisas doces*

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