10 setembro, 2022

EU QUERIA

 

Eu queria uma eleição em que todos anulassem os seus votos.
Eu queria que os pobres não votassem.
Eu queria que não ouvissem o falatório dos falsos cristãos que brincam com a palavra de um Deus que eles não acreditam, porque se acreditassem não levantariam falsos testemunhos para enganarem as pessoas pobres de bens e de espírito.
Eu queria que não ouvissem a voz dos políticos que nos roubam.
Eu queria que escutassem apenas a voz do coração e os gritos de fome e de dor, de desencantos e de tristezas dos seus filhos e dos filhos dos seus vizinhos que votaram para ter cidadania e não tem direito sequer ao básico para viverem.
Eu queria que cada um olhasse no rosto dos seus filhos e de todos os seus amados, e que dessem uma olhada ao seu redor para ver estampado no rosto de muita gente a desesperança e a tristeza de quem confiou e foi traído por quem ajudou a se eleger.
Eu queria que todos escutassem o lamento dos familiares dos que morrem nas filas esperando por uma cirurgia nos hospitais públicos, e dos ficam horas no posto de saúde da sua região esperando uma consulta que na maioria das vezes não dura mais que dois minutos. Eu queria que o voto não tivesse o preço de uma vida perdida em um hospital por falta de um remédio ou de um material cirúrgico que quase sempre faltam nos almoxarifados dos hospitais públicos.
Eu queria que as pessoas olhassem nos rostos daquelas que dormem nas calçadas, jogadas fora como lixo debaixo de uma marquise qualquer.
E queria que as pessoas escutassem os clamores dos que sofrem com a violência no campo e nas cidades onde as chacinas acontecem todos os dias
E pelo que parece, nada disso vai mudar, e cuja tendência é só piorar.
Eu queria que todos os eleitores escutassem a voz das plantas, das matas e dos animais que estão sendo extintos pela violência e pela falta de compromisso dos órgãos de governo que teoricamente seriam os responsáveis pela preservação da natureza que está morrendo, principalmente na nossa amazonia e na serra do curral em Minas Gerais. 
Eu queria que todos os eleitores se pusessem no lugar do povo indígena que está sendo dizimado pela brutalidade dos jagunços que obedecem cegamente a ordens dos que querem se apoderar das riquesas naturais das terras, que mesmo antes do descobrimento já pertenciam a este povo.  
Eu queria que todos os eleitores escutassem o lamento das águas e dos rios que ainda insistem em correr, que se lembrassem do sol cada vez mais quente por causa do raio ultravioleta que ultrapassa camada de ozônio destruída pela poluição que o progresso de olhos voltados apenas para o lucro não consegue enxergar.
Eu queria que escutassem o grito dos desesperados que clamam por justiça para uma plateia de surdos, cuja surdez é uma doença provocada por um mandato eletivo para uns poucos privilegiados se enriquecerem depressa demais.
Eu queria que o voto não tivesse o preço de uma telha de amianto, de um pouco de tijolo, de um padrão de luz ou de água, de uma cesta básica barata, de uma camisa de malha vagabunda com o nome ou com o retrato que quem, fora do ano eleitoral, olham os pobres com desprezo.
Eu queria que o voto não tivesse o preço de uma bola de futebol para os peladeiros, e que ao iniciarem um racha, que o chute inicial seja dado na bunda dos políticos corruptos que só pensam em dinheiro e poder.
Eu queria que o voto não tivesse o preço do empréstimo de um galpão que é construído com o dinheiro do povo para ser usado “para o bem da comunidade”.
Eu queria que o voto não tivesse o preço de uma festa de quinze anos custeada com o dinheiro roubado do povo para eleger muitas e muitos  sacanas que irão viver em festa o resto de suas vidas.
Eu queria que o voto não fosse trocado por uma cachaça ou por uma cerveja que se bebem abraçados com os candidatos que depois irão desenfetar suas mãos para não serem contaminados pela doença de pobre.
Eu queria que o voto não custasse o preço de uma consciência.
E quando alguém lhe disser que se uma pessoa honesta se eleger, fatalmente ela irá se corromper, Isto não é verdade porque  neste país ninguém se elege sem se vender para um político mais poderoso, e sem dar alguma coisa em troca do voto.
Eu sou confrade da Sociedade São Vicente de Paulo, uma ong que faz um belo trabalho de ajuda às pessoas pobres de bens e de espírito em todo o mundo.
Há uns anos, logo depois de uma eleição fui visitar uma família carente, que me disseram terem votado em um determinado candidato a vereador que os visitara faltando apenas três dias para a eleição, e que lhes fizera a clássica pergunta: O que vocês estão precisando? 
A pobre mulher lhe disse que precisava de um botijão de gás e de uma cesta básica, que foram providenciados na mesma hora
Mais uma vez eu pergunto: Para que votar em um sacana como este?
Como se eleger honestamente?
“Vai chegar um dia em que as pessoas terão vergonha de serem honestas”. 
Infelizmente, parece que Rui Barbosa realmente podia prever o futuro, porque hoje, o que ele previu se tornou realidade neste país onde a honestidade é sinal de babaquice, e que a lei de Gerson pauta a vida daquelas ou daqueles que se acham no direito de espezinhar a vida dos mais humildes.
Segundo essa lei, quem não leva vantagem é idiota.
Então, o nosso povo é formado, em sua grande maioria, por pessoas  idiotas, porque dificilmente uma pessoa pobre leva algum tipo de vantagem para facilitar sua vida.
Muitas pessoas não sabem que a força da honestidade pode derrubar muitos ladrões que se fantasiam de políticos.
Infelizmente, este ano teremos mais uma eleição.
Com o desemprego, a violência e a fome infernizando a vida de muitas pessoas, você que está lendo este texto, consegue vislumbrar a quantidade de eleitores que serão forçados a votarem nos candidatos dos violentos, dos sem lei e dos sem Deus que se acham donos de todas as verdades?
Eu queria poder olhar nos olhos dos meus netos sem ter que chorar de tristeza por saber que o futuro que os espera será cheio de dores e de lamentos. 

Eu não queria, mas tenho vergonha de ser brasileiro


Um comentário:

  1. Bom dia, Geraldo!
    Que Deus continue lhe inspirando e o encorajando a denunciar os opressores, responsáveis por todas as formas de miserabilidades ocorridas entre nós. Eles que amam e abusam dos poderes econômicos e políticos. Eles que se corrompem também com suas iniciativas preconceituosas e mantenedoras da dependência, muitas vezes como formas de caridade. Eles que se amam e desprezam o outro.
    Que este mês da Bíblia que sugere o Livro de Josué como fonte de estudo e reflexão, possa lhe trazer "força e coragem" (Js 1,9).
    Abraços, TITO

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