Eu queria uma eleição em que todos
anulassem os seus votos.
Eu queria que os pobres não votassem.
Eu queria que não ouvissem o falatório
dos falsos cristãos que brincam com a palavra de um Deus que eles não acreditam,
porque se acreditassem não levantariam falsos testemunhos para enganarem as
pessoas pobres de bens e de espírito.
Eu queria que não ouvissem a voz dos
políticos que nos roubam.
Eu queria que escutassem apenas a voz do
coração e os gritos de fome e de dor, de desencantos e de tristezas dos seus
filhos e dos filhos dos seus vizinhos que votaram para ter cidadania e não tem
direito sequer ao básico para viverem.
Eu queria que cada um olhasse no rosto dos
seus filhos e de todos os seus amados, e que dessem uma olhada ao seu redor para
ver estampado no rosto de muita gente a desesperança e a tristeza de quem
confiou e foi traído por quem ajudou a se eleger.
Eu queria que todos escutassem o lamento
dos familiares dos que morrem nas filas esperando por uma cirurgia nos
hospitais públicos, e dos ficam horas no posto de saúde da sua região esperando
uma consulta que na maioria das vezes não dura mais que dois minutos. Eu queria
que o voto não tivesse o preço de uma vida perdida em um hospital por falta de um remédio ou de um material cirúrgico que quase sempre faltam nos
almoxarifados dos hospitais públicos.
Eu queria que as pessoas olhassem nos
rostos daquelas que dormem nas calçadas, jogadas fora como lixo debaixo de uma
marquise qualquer.
E queria que as pessoas escutassem os
clamores dos que sofrem com a violência no campo e nas cidades onde as chacinas
acontecem todos os dias
E pelo que parece, nada disso vai mudar,
e cuja tendência é só piorar.
Eu queria que todos os eleitores
escutassem a voz das plantas, das matas e dos animais que estão sendo extintos
pela violência e pela falta de compromisso dos órgãos de governo que
teoricamente seriam os responsáveis pela preservação da natureza que está
morrendo, principalmente na nossa amazonia e na serra do curral em Minas Gerais.
Eu queria que todos os eleitores se
pusessem no lugar do povo indígena que está sendo dizimado pela brutalidade dos jagunços que obedecem cegamente a ordens dos que querem se apoderar das riquesas naturais das terras, que mesmo antes do descobrimento já pertenciam a este povo.
Eu
queria que todos os eleitores escutassem o lamento das águas e dos rios que
ainda insistem em correr, que se lembrassem do sol cada vez mais quente por causa
do raio ultravioleta que ultrapassa camada de ozônio destruída pela poluição
que o progresso de olhos voltados apenas para o lucro não consegue enxergar.
Eu queria que escutassem o grito dos
desesperados que clamam por justiça para
uma plateia de surdos, cuja surdez é uma doença provocada por um mandato
eletivo para uns poucos privilegiados se enriquecerem depressa demais.
Eu queria que o voto não tivesse o preço
de uma telha de amianto, de um pouco de tijolo, de um padrão de luz ou de água,
de uma cesta básica barata, de uma camisa de malha vagabunda com o nome ou com
o retrato que quem, fora do ano eleitoral, olham os pobres com desprezo.
Eu queria que o voto não tivesse o preço
de uma bola de futebol para os peladeiros, e que ao iniciarem um racha, que o
chute inicial seja dado na bunda dos políticos corruptos que só pensam em dinheiro e poder.
Eu queria que o voto não tivesse o preço
do empréstimo de um galpão que é construído com o dinheiro do povo para ser
usado “para o bem da comunidade”.
Eu queria que o voto não tivesse o preço
de uma festa de quinze anos custeada com o dinheiro roubado do povo para eleger muitas e muitos sacanas que irão viver em festa o resto de suas vidas.
Eu queria que o voto não fosse trocado
por uma cachaça ou por uma cerveja que se bebem abraçados com os candidatos que
depois irão desenfetar suas mãos para não serem contaminados pela doença de pobre.
Eu queria que o voto não custasse o
preço de uma consciência.
E quando alguém lhe disser que se uma
pessoa honesta se eleger, fatalmente ela irá se corromper, Isto não é verdade porque neste
país ninguém se elege sem se vender para um político mais poderoso, e sem dar
alguma coisa em troca do voto.
Eu sou confrade da Sociedade São
Vicente de Paulo, uma ong que faz um belo trabalho de ajuda às pessoas pobres de
bens e de espírito em todo o mundo.
Há uns anos, logo depois de uma eleição
fui visitar uma família carente, que me disseram terem votado em um determinado candidato a vereador que os visitara faltando apenas três
dias para a eleição, e que lhes fizera a clássica pergunta: O que vocês estão
precisando?
A pobre mulher lhe disse que precisava de um botijão de gás e de uma
cesta básica, que foram providenciados na mesma hora
Mais uma vez eu pergunto: Para que votar
em um sacana como este?
Como se eleger honestamente?
“Vai chegar um dia em que as pessoas
terão vergonha de serem honestas”.
Infelizmente, parece que Rui Barbosa
realmente podia prever o futuro, porque hoje, o que ele previu se tornou
realidade neste país onde a honestidade é sinal de babaquice, e que a lei de Gerson
pauta a vida daquelas ou daqueles que se acham no direito de espezinhar a vida
dos mais humildes.
Segundo essa lei, quem não leva vantagem
é idiota.
Então, o nosso povo é formado, em sua
grande maioria, por pessoas idiotas, porque dificilmente uma pessoa pobre leva algum tipo de vantagem para facilitar sua vida.
Muitas pessoas não sabem que a força da
honestidade pode derrubar muitos ladrões que se fantasiam de políticos.
Infelizmente, este ano teremos mais uma
eleição.
Com o desemprego, a violência e a fome
infernizando a vida de muitas pessoas, você que está lendo este texto, consegue
vislumbrar a quantidade de eleitores que serão forçados a votarem nos
candidatos dos violentos, dos sem lei e dos sem Deus que se acham donos de
todas as verdades?
Eu queria poder olhar nos olhos dos meus
netos sem ter que chorar de tristeza por saber que o futuro que os espera será
cheio de dores e de lamentos.
Eu não queria, mas tenho vergonha de ser brasileiro
Bom dia, Geraldo!
ResponderExcluirQue Deus continue lhe inspirando e o encorajando a denunciar os opressores, responsáveis por todas as formas de miserabilidades ocorridas entre nós. Eles que amam e abusam dos poderes econômicos e políticos. Eles que se corrompem também com suas iniciativas preconceituosas e mantenedoras da dependência, muitas vezes como formas de caridade. Eles que se amam e desprezam o outro.
Que este mês da Bíblia que sugere o Livro de Josué como fonte de estudo e reflexão, possa lhe trazer "força e coragem" (Js 1,9).
Abraços, TITO