08 dezembro, 2010

SONS DA MADRUGADA





À noite quando perco o sono sento-me na cadeira de balanço na varanda, herança que me acompanha desde a juventude. Na magia da noite fico pensando nos mistérios da madrugada ouço vozes e ruídos parecendo sussurros da alma e escuto os barulhos que vem da rua e dos quintais.
E os sons  me falam coisas sem sentido.
Uma sirene a caminho do hospital teima em me mostrar o quanto nossa vida é frágil.
O ser humano é frágil!
Vulnerável!
Os latidos dos cães me dizem que estão presos e ávidos por liberdade.
Como a maioria das pessoas!
Os roncos dos motores me incomodam, e as músicas dos carros que passam na rua me incomodam ainda mais.
Ouço palavras e gritos desconexos vindo  de muito longe parecendo que alguém quer compartilhar seus segredos.
Estou sozinho.
E descobri que conversar com a gente mesmo de vez em quando é muito bom para desabafar e colocar os pensamentos em ordem.
“O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar”, foi o que nos disse uma canção do cantor e compositor Caetano Veloso. A gente voa para lugares que não queria e que trazem lembranças que pensávamos estar esquecidas, mas meu pensamento teima em me mostrar as coisas ruins que fiz e das quais me arrependo.
Todos nós precisamos ter alguma coisa para nos arrependermos, do contrário seriamos perfeitos e a perfeição nos leva para o fim. Tenho certeza absoluta que realizei muitas coisas boas, mas elas não são mostradas pelo arquivo da minha memória com tanta intensidade como são as coisas ruins.
O dia-a-dia da gente é assim. Elogiar uma pessoa é um sacrifício, mas colocar a mão na ferida e apontar os defeitos dos outros é algo que muitas vezes fazemos até sem perceber.
Tento fazer meu pensamento apagar os momentos ruins e ele se recusa. Conversando com o meu interior ele me disse que as coisas ruins me mostradas são tão ou mais importantes que as boas e que precisam ficar indo e vindo para que eu nunca mais cometa as mesmas idiotices, e ele tem razão!
E o dia começa a amanhecer com a luz invadindo as trevas, as luzes artificiais vão se apagando e o sol com todo seu esplendor rompe o véu da noite e meu pensamento retoma sua rotina. A família acorda para o café da manhã e para os afazeres cotidianos, olho para os meus amados e uma sensação de alegria me invade porque sei que não estou sozinho. E na convivência diária tenho absoluta certeza que as coisas ruins são realmente do passado, e o presente e futuro se unem para mais um dia.

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