Durante
quatro anos fui presidente voluntário de um asilo de caridade da sociedade de São
Vicente de Paulo com cinquenta moradores, e desses, trinta eram acamados e
quase todos os outros sofriam de algum distúrbio mental.
Todos se preparam para ter e cuidar dos filhos, mas
nunca para cuidar dos seus pais quando envelhecerem. A grande maioria
das pessoas que perderam os seus pais jura que cuidaria deles se tivesse tido
oportunidade, e os que ainda convivem com os seus, quando a velhice chega, a
primeira opção é coloca-los em um asilo.
Quando uma família, ou apenas um filho ou filha queriam se ver
livres dos seus pais já idosos, eu os visitava para fazer uma sindicância para
conhecer a realidade e a necessidade do asilamento.
Três dessas sindicâncias ficaram gravadas na minha memória.
Em uma delas eu reuni onze filhas e um filho querendo colocar o
pai no asilo. Um dos genros disse que só o aceitaria na sua casa se ele ficasse
um mês na casa de cada um e eu lhe disse que não estávamos tratando de uma bicicleta
velha que todos jogariam por cima do muro. Nesta reunião dois cunhados se desentenderam
e houve o começo de uma briga com faca em punho. Depois e acalmado os ânimos,
eles disserem que iriam cuidar o pai.
Em outra sindicância a família queria colocar uma senhora de
noventa e cinco anos no asilo. Ao redor da casa dessa senhora moravam quatro
netas que construíram suas casas no mesmo lote, e que segundo sua mãe não
ajudavam no cuidado com a avó. Eu ponderei com a filha que a sua mãe estava com
a idade muito avançada e certamente perto da morte. Mesmo assim ela insistia
para que eu a trouxesse para o asilo. Então eu perguntei qual era a sua idade e
ela me disse que tinha sessenta anos, e como esta era a idade para o asilamento,
eu lhe disse que traria as duas, e ela imediatamente disse que não queria vir e
eu lhe perguntei por que queria que sua mãe fosse. Ela olhou assustada para mim
e disse que iria cuidar da mãe.
Na terceira sindicância fui ao apartamento de uma família que
também queria asilar a sua matriarca. Na ficha da sindicância constava apenas o
nome de uma filha, mas conversando ela me disse que tinha três irmãos, um era
tenente do exército, um era sargento e o outro era cabo da polícia militar. O
rapaz que era cabo da polícia chegou e eu disse para ele que era um absurdo o
que estavam fazendo, no princípio ele não gostou, mas depois disse que não era
para leva-la e que eles iriam cuidar da mesma.
O que o estatuto do idoso mudou na vida daqueles que tiveram a
ousadia de envelhecer? Que direitos tem as pessoas idosas nesse país ? Andar de
graça em um ônibus lotado onde muitas vezes tem alguém fingindo dormir nos
assentos prioritários? O direito de ser atendido primeiro em qualquer
lugar que houver uma fila e ficar escutando desaforos de alguns que acham isso
um absurdo? Ficar olhando para uma receita amarelada na gaveta por que o
dinheiro do benefício não sobrou para comprar os medicamentos? Ver o dinheiro da sua aposentadoria sumir em empréstimos
consignados realizados por filhos e filhas e outros parentes?
O que mais foi conquistado?
Se alguém souber, por favor entre em contato.
É por isso que eu não quero e não posso envelhecer.
Olá estimado Geraldo,
ResponderExcluirBela reflexão!
Em Portugal, a situação é muito idêntica.
A idade de ouro deveria ser olhada de outra maneira.
Abraços de luz.
É triste ver essa situação. Tenho pais idosos que precisam de mim e de meus irmãos, eles dão trabalho sim, mas sabemos que demos trabalho a eles tb, nós os amamos. Dói saber de idosos sem família.
ResponderExcluirAbraços
Um país que não respeita seus idosos, é uma país sem memoria.No Brasil é uma vergonha o tratamento dispensado a estes lutadores cheios de historias.Eu vejo coisas que me envergonham.Em viagem a trabalho na Alemanha, fiquei extasiado em ver como a ABB tratava seus velhos tecnicos, como verdadeiras enciclpedias da empresa.A gente tem de melhorar muito mesmo. Educar as pessoas, recriar nossos politicos.
ResponderExcluirPrecisamos sim e todos temos uma parcela nesta revolção.
Um abraço amigo.