09 dezembro, 2010

NÃO QUERO E NÃO POSSO ENVELHECER



                        



Durante quatro anos fui presidente voluntário de um asilo de caridade da sociedade de São Vicente de Paulo com cinquenta moradores, e desses, trinta eram acamados e quase todos os outros  sofriam de algum distúrbio mental.
Todos se preparam para ter e cuidar dos filhos, mas nunca para cuidar dos seus pais quando envelhecerem. A grande maioria das pessoas que perderam os seus pais jura que cuidaria deles se tivesse tido oportunidade, e os que ainda convivem com os seus, quando a velhice chega, a primeira opção é coloca-los em um asilo. Quando uma família, ou apenas um filho ou filha queriam se ver livres dos seus pais já idosos eu os visitava para fazer uma sindicância para conhecer a realidade e a necessidade do asilamento. Quatro dessas sindicâncias ficaram gravadas na minha memória. Em um delas eu reuni onze filhas e um filho querendo colocar o pai no asilo. Um dos genros disse que só o aceitaria na sua casa se ele ficasse um mês na casa de cada um. Em outra sindicância a família queria colocar uma senhora de noventa e cinco anos no asilo. Ao redor da casa dessa senhora moravam quatro netas que construíram suas casas no mesmo lote, e que segundo sua mãe não ajudavam no cuidado com a avó. Eu ponderei com a filha que a sua mãe estava com a idade muito avançada e certamente perto da morte. Mesmo assim ela insistia para que eu a trouxesse para o asilo. Então eu perguntei qual era a sua idade e ela me disse que tinha sessenta anos, e como esta era a idade para o asilamento eu lhe disse que traria as duas e imediatamente ela disse que não queria vir e eu lhe perguntei por que queria que sua mãe fosse. Ela olhou assustada para mim e disse que iria cuidar da mãe. Na terceira sindicância fui ao apartamento de uma família que também queria asilar a sua matriarca. Na ficha da sindicância constava apenas o nome de uma filha, mas conversando ela me disse que tinha três irmãos, um era tenente do exército, um era sargento e o outro cabo da polícia militar. O rapaz que era cabo da polícia chegou e eu disse para ele que era um absurdo o que estavam fazendo, no princípio ele não gostou, mas depois disse que não era para leva-la e que eles iriam cuidar da mesma.
Que direitos tem as pessoas idosas nesse país ? Andar de graça em um ônibus lotado onde muitas vezes tem alguém fingindo dormir nos assentos prioritários? O direito de ser atendido primeiro em qualquer lugar que houver uma fila e ficar escutando desaforos de alguns que acham isso um absurdo?
Ficar olhando para uma receita amarelada na gaveta por que o dinheiro do benefício não sobrou para comprar os medicamentos? Ver o dinheiro da sua aposentadoria sumir em empréstimos consignados realizados por filhos e filhas e outros parentes? 
O que o estatuto do idoso mudou na vida daqueles que tiveram a ousadia de envelhecer?
O que mais foi conquistado? 
Se alguém souber, por favor entre em contato.
É por isso que eu não quero e não posso envelhecer.

3 comentários:

  1. Olá estimado Geraldo,

    Bela reflexão!
    Em Portugal, a situação é muito idêntica.
    A idade de ouro deveria ser olhada de outra maneira.

    Abraços de luz.

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  2. É triste ver essa situação. Tenho pais idosos que precisam de mim e de meus irmãos, eles dão trabalho sim, mas sabemos que demos trabalho a eles tb, nós os amamos. Dói saber de idosos sem família.
    Abraços

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  3. Um país que não respeita seus idosos, é uma país sem memoria.No Brasil é uma vergonha o tratamento dispensado a estes lutadores cheios de historias.Eu vejo coisas que me envergonham.Em viagem a trabalho na Alemanha, fiquei extasiado em ver como a ABB tratava seus velhos tecnicos, como verdadeiras enciclpedias da empresa.A gente tem de melhorar muito mesmo. Educar as pessoas, recriar nossos politicos.
    Precisamos sim e todos temos uma parcela nesta revolção.

    Um abraço amigo.

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