O que me trouxe para este asilo?
Porque fui condenado a este exílio?
Qual foi o crime cometi?
As pessoas que aqui trabalham fazem o melhor que
podem, e somos tratados como se fossemos uma grande família.
Família...
Já nem sei o que isso significa.
Tem hora que dá uma vontade danada de conversar com
meu filho, mas não sei onde ele está ou se ainda quer conversar comigo.
E à noite enquanto o sono não chega fico escutando
o ressonar dos outros que dormem ao meu lado, e bate uma saudade do quarto que
agora não é mais meu.
Da casa que deixei para trás e que agora também não
é minha.
Quando ouço passos se arrastando, por uns momentos
sou levado para o tempo em que meus filhos eram pequenos e caminhavam para
minha cama com medo de assombração.
Quem será que levanta de madrugada para cobrir o
meu neto como eu fazia com os meus filhos?
Não consigo entender!
A velhice, além da saúde, tirou tudo que eu tinha.
Liberdade.
Família.
Até os amigos esqueceram, ou não se interessaram em
saber que este asilo é o meu atual endereço.
Se me perguntarem se aqui é bom, vou repetir mil
vezes que é o melhor lugar do mundo.
Afinal, foi essa casa que me acolheu.
Aqui não tem ninguém gritando ou falando pelos
cantos que vai me colocar em um asilo.
Eu já estou aqui!
Sei que causo os mesmos problemas que causaria em
casa, mas todos que moram aqui estão na mesma situação.
Dependentes da boa vontade de estranhos.
A diferença é que as pessoas que cuidam de mim conhecem
as minhas carências, e pelo fato de terem me visto pela primeira vez do que
jeito que estou, não me cobram nada.
Elas agora estão substituindo os filhos que eu não
soube criar ou que não gostaram de terem nascido sob a minha proteção.
Não tenho nada a reclamar do tratamento recebido
pós-abandono.
Mas que eu sinto uma saudade danada de ter alguma
coisa para novamente chamar de meu
Isto eu sinto.
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