30 outubro, 2012

PRISIONEIROS DA VELHICE











 

Estou sentado na recepção do asilo. São quinze horas de um sábado ensolarado e  mais um dia sem visitas para quebrar o silencio que incomoda. Os treze degraus da escada e a pequena passarela de cimento que leva até o portão parecem obstáculos instransponíveis, e o portão fechado mais parece o de uma prisão. Pessoas passam na rua e de vez em quando alguém acena para um morador que segura na grade da janela do seu quarto como um prisioneiro da velhice.
Todos nós iremos envelhecer!
A grande maioria olha para os idosos como algo que já não serve mais.  Muitos esquecem que se não quiserem ficar assim, e aqui, terão que morrerem ainda jovens. Ninguém, nem com todo o dinheiro do mundo pode afirmar com absoluta certeza que um dia não irá morar em um asilo ou ficar confinado em cima de uma cama. Aqui dentro o silencio é quebrado pelo som de um rádio que toca qualquer música que a maioria finge escutar. Também é quebrado pelas rusgas entre moradores por qualquer motivo banal. 
O barulho da água do aquário parece gritar contrastando com o silêncio dos peixes e dos moradores.
Muitas vezes nem os velórios são tão silenciosos.
Tem-se a impressão que o morador fica esperando a morte tomá-lo pela mão para tirá-lo da agonia da indiferença.
Incrível!
A maioria dos moradores sofre de algum distúrbio psíquico, e para eles, viver é apenas ficar olhando para o vazio. Mesmo nas suas insanidades sabem a hora certa das refeições e reclamam quando elas atrasam.
Tenho certeza que há esta hora muitos parentes estão passeando, curtindo a vida em um clube ou tomando sua cerveja saboreando um bom churrasco.
Alguma coisa de errado nisso?
Claro que não!
Mas será que não está faltando alguém?
Para que visitar?
 “Ele (a) estão bem cuidados (as)”!
E assim as horas vão passando e a tristeza parece entranhar nas paredes, saídas dos gemidos de saudade.
Os moradores do lar só olham para frente.
Tudo ficou para traz!
Casa, filhos e filhas, maridos e esposas, netos, irmãos.
Amigos!
Todos são apenas vagas lembranças, quase sempre amargas, com raríssimos lampejos de doçura.
Por coincidência, o telefone tocou e o filho de uma moradora ligou para saber se sua mãe ainda estava viva para vir visita-la. Morando a apenas cem quilômetros de distância não a vê há mais de quatro anos. E de fato, no outro dia ele veio visitá-la, e quando estava saindo lhe dei esse texto que acabara de escrever para ler na sua viagem de volta.
Pelo que sei, até ele hoje não voltou para uma nova visita.
No entorno do asilo estão instaladas várias igrejas de todos os credos e os fiéis dessas  igrejas fingem não ver o asilo e acham que Deus os espera apenas nas igrejas e nos templos. Os ministros com suas vestes brancas nem sequer olham para este prédio que é a morada do verdadeiro Cristo, e não se lembram do que foi dito: “Eu estive doente, preso, e me visitastes”.
A tarde vai caindo e os últimos raios do sol vão embora levando junto a esperança de receber uma visita.
A noite cai e é hora de ir para cama lutar contra o pensamento que teima em espantar o sono.
Aqui, o dia de sábado, com algumas exceções, é dia de agonia.
Os dias parecem se repetir.
As horas parecem eternas.
E seria tão fácil mudar esta rotina.
Não estamos pedindo muito.  Precisamos da presença de pessoas para dar um colorido diferente no preto e branco da vida dos moradores. O carinho dos funcionários não é suficiente. O afeto do dia-a-dia no cuidado e na manutenção da casa não permite um atendimento individualizado. Fazemos o possível para amenizar a nostalgia que se transforma em tristeza, e muitas vezes nos sentimos impotentes e tiramos da impotência os estímulos para amenizar a vida de quem desaprendeu a arte de viver.

5 comentários:

  1. Oi estimado Geraldo,

    Um dia, e se lá conseguirmos chegar, todos entraremos na 3ª idade.
    Bom seria que ficássemos em nossas casas, no nosso conforto e com nossos móveis e hábitos, mas na maior parte dos casos, assim, não acontece.

    Graças a Deus, que não tenho filhos, e portanto eu giro o meu próprio destino, se tiver capacidade física e mental para o fazer e se Deus o permitir.

    Não serei fardo pra ninguém. Pagarei, porque o posso fazer pra que tratem de mim, com dedicação. O dinheiro paga quase tudo, infelizmente.

    Lamento a situação de todos esses pobres homens e mulheres, que ficam num canto abandonados, pensando nos dias bons e agradáveis, que passaram com suas famílias.

    Os filhos nem querem saber deles pra nada. Todo o mundo sabe disso. Depois da morte deles e se houver bens, então estarão todos presentes, aí, sim.

    Obrigada pelo seu comentário, mas não fui eu que hibernei, você é que comenta muito pouco blogs. Não tem paciência pra estar na NET, mas as pessoas gostam de receber comentários, Geraldo, porque também, os deixam em seu blog. Já pensou nisso?

    Sabe que eu sou muito sincera e não gosto de falar nas costas, digo aquilo que penso e você sabe que eu o comento muito mais do que você me comenta a mim.
    Assim, é difícil, ter comentaristas, querido amigo.

    É DANDO QUE SE RECEBE, PORQUE, QUE EU SAIBA NÃO HÁ SANTOS/AS POR AQUI.

    Resto de boa semana.
    Abraços da Luz, com estima.


    ResponderExcluir
  2. E a propósito, lhe aviso que há novo post, no "Afetos e Cumplicidades".
    Agora, não tem desculpa, Geraldo.

    Nós já nos contatamos há mais de um ano e você me conhece, razoavelmente.

    Beijo da Luz.

    ResponderExcluir
  3. Olha, Geraldo!

    Deixa eu dizer uma coisa, que esqueci. A imagem que encima seu post é dramática e até faz doer o coração.

    Beijos da Luz.

    ResponderExcluir
  4. Geraldo!
    Que triste meu amigo!
    Com certa experiencia em hospitais de afirmo que é muito comum filhos levarem seus pais, e nem voltarem pra saber se continuam vivos.

    Imagens que chocam, triste realidade, infelizmente.


    Ótimo domingo pra vc

    ResponderExcluir
  5. Uma triste realidade amigo.
    Quem vive por estes lugares tem historias para contar que cortam o coração.
    Meu abraço.

    ResponderExcluir

Aqui você é muito bem vindo. Seu comentário ajuda na construção desse espaço de liberdade