QUE NÃO PENSA NA FAMÍLIA COMO UM TODO |
Este texto foi escrito em 2006, logo
após me demitir de um cargo comissionado que ocupava no almoxarifado do
hospital regional da minha cidade.
A gente se acostuma.
Esta frase repetida inúmeras
vezes todos os dias nos hospitais públicos.
Sei que muitas vezes escrevo algumas baboseiras,
talvez por falta de conhecimento acadêmico, mas sempre escrevo sobre aquilo que
me incomoda, e ultimamente a precariedade da saúde mental está muito presente
na minha vida.
Hoje eu quero fazer uma pergunta e gostaria que
quem tiver uma resposta plausível entrasse em contato comigo. Onde estão os pacientes que eram tratados nos
Manicômios que foram fechados nos anos oitenta?
Se o SUS é um dos melhores programas de saúde pública do
mundo, por que será que o serviço de saúde do país é tão ruim?
A culpa é dos governantes que só se preocupam com obras eleitoreiras
e acham que o cemitério é o lugar ideal para enterrar os problemas da saúde? Quando alguém morre por falta de um medicamento e o atestado
de óbito esconde a verdadeira causa da morte, a culpa é de quem? Dos burocratas
que não compraram o medicamento ou do profissional que omitiu a verdadeira causa
da morte? Quando alguém espera meses por uma cirurgia, e quando este dia está chegando
ela recebe um telefonema cancelando o procedimento com a desculpa esfarrapada de
que a “Máquina” está quebrada escondendo a falta de um fio cirúrgico barato, e
esta pessoa morre à mingua, a culpa é só de quem não comprou?
Por que não denunciar?
Medo de perder o emprego?
Comodismo?
Ou como se
diz nos corredores: A gente se acostuma!
Até com as mortes que poderiam ter sido evitadas.
O que os psiquiatras e psicólogos pensam do atendimento aos
pobres com algum distúrbio mental?
Eles juram que o lugar deles é junto com os familiares.
E onde é o lugar os familiares?
Nos anos oitenta foi feito uma campanha contra os manicômios
e fecharam essas instituições onde os doentes eram tratados como animais
irracionais.
Por animais irracionais pós-graduados em grandes
universidades e reprovados na universidade da vida, e maus alunos na matéria:
Ser humano.
Os manicômios de unidade de saúde não tinham nada, na verdade
eles eram um inferno para onde eram levadas as pessoas que tinham vontades
próprias e que queriam serem livres. Para onde eram levados os inimigos do
governo, os pobres que vagavam pelas ruas, as prostitutas e prostitutos.
Os manicômios não era um lugar para o tratamento da demência,
mas, um local de torturas e mortes.
Quando os manicômios foram fechados, os políticos, com a
conivência de psiquiatras e psicólogos chegaram à brilhante conclusão de que a
melhor solução seria mandar os doentes de volta para suas casas porque eles
precisam se socializar.
Voltar para junto da família!
Brilhante ideia!
E quando o paciente não tem casa?
E quando o paciente já não tem família?
Onde foram parar os pobres doentes, e os doentes pobres? Para casa certamente a maioria não foi
E os que adquiriram a doença depois?
Junto com a família o tratamento é humanizado? Quando a família é rica colocam seus parentes em uma clínica
onde os visitam nos primeiros dias e depois esquecem que ele ou ela existem e tudo
estará resolvido. Quando a família é pobre os familiares suportam e sofrem por
algum tempo, e depois procuram um asilo de caridade para internarem seus entes
nada queridos.
E com isso muitos asilos perderam sua essência. As
instituições de caridade se sentiram na obrigação de acolher essas pessoas,
mesmo que isso vá levar à loucura os moradores lúcidos, os funcionários que não
estão preparados e os voluntários que ficam sem ação E vem os psiquiatras
dizendo que a palavra asilo está proibida e que essas casas devem ser chamadas
de Lar.
Lar! Onde estão os
filhos, os irmãos, a esposa e o marido para constituir este lar? Sou responsável
por um desses “lares” com quarenta internos, sendo treze acamados e mais de
vinte com algum distúrbio mental.
Onde estão os psicólogos e
psiquiatras? Com certeza, nos consultórios acarpetados esperando um biruta qualquer
para pagar uma consulta.
Em substituição aos hospitais psiquiátricos o Ministério da
Saúde determinou, em 2002, a criação dos Centros de Atenção
Psicossocial em todo o país. Os CAPs são espaços para o acolhimento de
pacientes com transtornos mentais em tratamento não-hospitalar
E foram criados os Cersans.
Em muitos casos alguns pacientes são levados ao Cersan uma
vez por mês para tomar um “sossega-leão” e deixar sua família dormir algumas
noites em paz. Em outros casos alguns pacientes são recolhidos durante o dia e
devolvidos à noite nas suas casas. Eu disse
recolhido e devolvido porque esta é a impressão que se tem do atendimento
nessas unidades. Na minha cidade com quatrocentos mil habitantes o Cersan tem
apenas sete leitos para acolher esses pacientes.
Cuidar da pessoa com algum distúrbio mental é obrigação do
poder público.
Que continuem fechados os Manicômios, e que se abram mais
casas de acolhimento gerenciadas por seres humanos que não tenham nenhum
compromisso de votar ou pedir voto para alguém.
Quando isso acontecer os funcionários das unidades
hospitalares poderão esquecer de vez a frase: A gente se acostuma.
Geraldo, outro dia ouvi de um padre que o bem maior que Deus nos deu não é essa vida, e sim a vida eterna, essa vida passa, e devemos sofrer com paciência; com sertesa essas pessôas estam com DEUS, eu tambem vi muitas veses na TV essas pessòas nos manicôimios, tratados não como animais, pois animais são bem tratados, ou eles se viram para sobrevivêr, faz parte da naturesa, não tenho palavras para expressar tamanha crueldade com seres humanos, o que faziam com os doentes mentais, mais com sertesa Deus olha por eles..
ResponderExcluir