24 agosto, 2010

A CASA QUE EU MESMO CONSTRUÍ.

ESTE TEXTO FOI ESCRITO EM ABRIL DE 2007 E LIDO 1500 VEZES NO USINA DE LETRAS.



Estou sentado na varanda da casa que eu mesmo construí com muito suor e sacrifício tendo que dividir meu tempo com o trabalho, com minha esposa e com os meus filhos para quem eu construíra. E agora ela não é mais minha porque perdi as forças para governar o meu próprio corpo e preciso de ajuda para me locomover e até para pensar. No começo parecia que alguém me amava e não se importava em cuidar de um fardo sem utilidade, mas em pouco tempo a paciência pediu licença e foi embora levando consigo a caridade, o carinho e o amor. E comecei a me sentir um estranho dentro da própria casa que eu mesmo construíra. Até que um dia dois estranhos vieram me visitar, e sem dúvida eram pessoas caridosas. E ao conversar com aquelas pessoas elas me fizeram a pergunta que eu nunca imaginara ouvir: O senhor sabe que estão querendo colocá-lo em um asilo?  
Eu sabia, mas disse não saber.
A pergunta seguinte foi ainda mais dolorosa: O senhor quer ir? 
Até parece que eu tinha querer! 
E sem ação, um não ficou entalado na minha garganta quando percebi que teria que abandonar a casa que eu mesmo construíra, e que o carinho e atenção que me fazem viver terão que vir de fora desta mesma casa.
Fui levado para o asilo!
Os primeiros dias foram de muita dor. Agora eu não ouço mais a algazarra dos meus netos e não escuto mais as vozes da minha esposa e dos meus filhos. Meus parentes mais próximos agora são os meus companheiros de quarto que sofrem com o mesmo problema que sofro agora. Durmo até a hora que o meu corpo pede para levantar e tem alguém que me leva para me dar um banho. Tomo o café da manhã e fico sentado em uma poltrona olhando para este outro mundo que termina em um muro alto e intransponível.
Aqui tem hora para almoçar, estando ou não com fome.
Ainda não me acostumei com os gritos e gemidos dos meus colegas de quarto, mas posso me deitar e levantar quantas vezes quiser, dormir ou fingir que estou dormindo para que o tempo passe mais rápido. Sou escravo de mim mesmo, do meu tempo, e do tempo dos outros. De vez em quando pessoas simpáticas aparecem para conversar parecendo querer substituir alguém que não deveria querer ser substituído. 
E fico esperando não sei o quê.
E fico pensando...
Meus filhos agora são as pessoas que não gerei e que cuidam de mim.
Dizem até que se alguém quiser pode me levar para passear e para dormir uma noite ou outra na minha antiga casa. Mas eu não tenho mais a casa que eu mesmo construí e agora ela é propriedade dos herdeiros que eu gerei.
Não quero ficar indo e vindo.
Preciso me desligar do passado. 
Sei que não vou esquecer o sorriso dos meus netos, mas enquanto meu pensamento deixar quero me lembrar dos acertos e desacertos que cometi na criação dos meus filhos.
Porque agora só me restam lembranças.
Inclusive da casa que eu mesmo construí.

2 comentários:

  1. OI GERALDO!
    MUITO TRISTE,MAS REAL.
    ABRÇSZilanicelia.blogspot.com
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  2. O olhar ao idoso no Japão e na China, por Silvia Masc

    Data: 28 de junho de 2013

    Na China e no Japão, a velhice é sinônimo de sabedoria e respeito. O fenômeno envelhecer é natural e inerente a toda espécie e tem sido preocupação da chamada civilização contemporânea. Os idosos são tratados com respeito e atenção pela vasta experiência acumulada em seus anos de vida. A família é o Porto Seguro do idoso.



    Os familiares mais jovens declaram com orgulho os sacrifícios realizados pelos seus idosos em benefício da família, como a iniciação ao trabalho muito cedo com pouca instrução para o sustento e estudo dos filhos, demonstrando sempre alegria, festa e plenitude pela presença do idoso.



    A cultura dessas sociedades tem como tradição cuidar bem, glorificar e reverenciar seus idosos, resultado de uma educação milenar de dignidade e respeito.Os japoneses consultam seus anciãos antes de qualquer grande decisão, por considerarem seus conselhos sábios e experientes.



    Em outros grupos das sociedades antigas, o ancião sempre ocupava uma posição digna e era sinônimo de forte aspiração perante todos. Os idosos têm intensa atuação nas decisões importantes de seus grupos sociais, especialmente nos destinos políticos.

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