16 junho, 2016

PASSAGEIROS DA AGONIA



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É ASSIM QUE O SER HUMANO É TRATADO.

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Há muito tempo não andava de ônibus. Depois de passar mais de cinco anos sem ir a Belo Horizonte, nem mesmo a passeio, estou novamente indo e voltando todos os dias usando o transporte coletivo com seus veículos caindo aos pedaços testando a paciência de quem é obrigado a usá-lo para se locomover e fico observando as pessoas com seus olhares perdidos no vazio. Dentro do ônibus uma placa do órgão de governo que gerencia o transporte diz que é proibido ficar na escada. Mas ela é parte integrante do espaço para empilhar pessoas porque o lucro abusivo das empresas precisa ser preservado, mesmo não tendo nada a oferecer aos passageiros da agonia.  A relação do empresário do setor de transporte com seus usuários é uma via de mão única onde muitos são torturados e poucos ficam cada vez mais ricos. A maior tristeza é saber que de dois em dois anos o dinheiro arrecadado com o excesso de passageiros irá financiar a campanha de um político que será eleito com o voto democrático dos passageiros da agonia.
E continuo observando a sacanagem de um transporte coletivo que iguala os seres humanos aos porcos e bois a caminho do abate com o balançar de um ônibus lotado de pessoas que procuram o abrigo de um lar ou o desconforto de uma carteira de escola que os preparam para um futuro incerto nesse país das incertezas, e isso vai minando a paciência dos passageiros. Estressando! 
Criando neuroses! Agora vamos falar do lado quase humano de  quem é obrigado a fazer isso todos os dias e veremos  a indiferença que muitas pessoas  nutrem umas   pelas outras. 
Os animais não falam, mas quando se aproximam uns dos outros se cheiram, exalam algum odor e soltam algum som ou fazem algum gesto para dizer: estou aqui. 
Dentro de um ônibus duas pessoas se roçam o tempo todo nos corredores apertados pelo balançar das rodas (espero que seja só por isso), e sequer trocam uma palavra, e às vezes até se olham com desprezo. Idas e vindas tornam-se monótonas e demoradas e dois seres que se dizem humanos, sentados lado a lado raramente se olham ou entabulam uma conversa. Muitos ficam falando ao celular incomodando quem está ao seu lado sem sequer se dar conta que o outro também existe. Alguns fecham os olhos fingindo dormir, talvez para fugir de algum olhar que lhe pede para dizer alguma coisa, ou dos olhares que os incomodam. Tem os que ocupam o lugar reservado às pessoas com necessidades especiais e também fingem dormir para não ceder o lugar a quem o tem garantido por lei.  Outros dormem de verdade, vencidos pelo cansaço, embalados pelo barulho do motor e pela mudez do passageiro ao seu lado. 
Os olhares perdidos dos passageiros me dão a impressão que estão olhando para o vazio, e quase não se vê um sorriso de alguém. O doloroso é saber que muitos desses comportamentos acompanham as pessoas para dentro de suas casas onde marido e mulher, pais e filhos, irmãos e irmãs se cruzam nos corredores sem um simples gesto de carinho. 
O ser humano precisa abrir-se mais para o outro.  
Os tempos modernos e a tecnologia trouxeram máquinas que falam para que as pessoas fiquem mudas diante das outras. Precisamos urgentemente prestar atenção em quem está ao nosso redor, e se todos, ao entrarem no ônibus o fizessem com o espírito desarmado este seria o melhor consultório de psicanálise ou psiquiátrico que existe, porque querendo ou não, é um dos melhores lugares para se dividir tristezas e repartir alegrias. 
Quantos relacionamentos amorosos começaram dentro de um ônibus? 
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. 
Afinal, não foi isso que o Pai nos ensinou? 
Então, quem ama enxerga o outro,
 mesmo quando ambos são passageiros da agonia.


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