CADA VOLTA DO NOVELO
Dias a fio tecendo uma
blusa para a neta
um par de meias para o
neto
com a agulha presa em
mãos que tremem
a vontade de tecer faz a fiandeira viver
Catarina,
com mal de Parkison
com um olhar aguçado que olha há oitenta anos
chora com medo da
polícia
conversa com os visitantes
e com a agulha de tricô desenha esperança.
De todas as
formas, e até em ponto de cruz
tecendo o que e como quiser
reza e pede que Deus a
ilumine
porque tecendo quer
viver
Linhas
viram colchas das camas dos filhos e netos
e foram tecidas
com a paciência
que une cada volta do
novelo
como se tecesse para uma
rainha adormecer
E assim, mesmo com toda a
modernidade
da tecnologia que cria
cores e formas artificiais
as valorosas bordadeiras
e tecelãs
mostram para as futuras
gerações
que nada substitui as agulhas
que desenham o que cada
uma traz nos seus corações
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