02 novembro, 2023

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

 Escrevi este texto  em Março de 2006. Alguma coisa mudou?


Todo dia vinte de novembro é comemorado o Dia da Consciência Negra e sinceramente não sei o que isso significa. Será que é olhar para a própria pele e sair gritando pelas ruas: Eu sou preto? Ou olhar para dentro de si mesmo e dizer para todo mundo ouvir: Eu sou diferente dos outros apenas na cor da minha pele.
Por que não tem o dia da consciência branca? Seria até cômico ver muitas pessoas idiotas que se acham da raça “superior” saírem pelas ruas gritando: Eu sou um branquelo!
Façam-me o favor!
Na minha modesta opinião, criar este feriado nada mais foi do que oficializar o racismo e a segregação racial. Infelizmente muitas pessoas violentas e sem princípios se veem no direito de agredir os nossos irmãos e irmãs negras. 
Na minha opinião, mesmo sendo um analfabeto, não foram somente os negros, e a até hoje não são, os únicos escravizados. Escravos foram e ainda continuam sendo as pessoas pobres, independente da sua raça ou da cor da sua pele.
Vejam esta Pesquisa feita pela jornalista Simoneuza Oliveira, Psicopedagoga em 03/11/2006: "Se prestarmos atenção às pessoas ao nosso redor veremos que muitas têm avós italianos, pais árabes, serão de origem africana, espanhola, alemã, portuguesa, francesa, e várias outras nacionalidades que ajudaram na construção desse país. Mais claramente veremos uma grande maioria de crianças e adultos com traços fisionômicos que evidenciam sua origem negra. O negro é talvez o elemento que maior contribuição trouxe à formação da cultura brasileira. Nos porões dos navios negreiros vieram os germes do samba, do frevo, do candomblé, do culto à Iemanjá, do sabor quente e forte de nossa comida, além das crenças e hábitos aos quais nos acostumamos tanto que nem paramos para pensar de onde vieram". 
Agora vejam a minha colocação...
Infelizmente, os navios também trouxeram a violência, a ganância, a barbárie e a corrupção que até hoje consome a riqueza do nosso país.
Outro dia vendo e ouvindo o noticiário, indignado, desliguei o televisor. Isso foi logo depois de ouvir que os nossos “valorosos” deputados federais deram mais uma demonstração de insensatez e despreparo ao aprovarem a lei de cotas nas universidades públicas onde metade das vagas serão reservadas para Negros, Pardos, Índios e alunos do ensino médio que estudaram em escolas públicas. Ao criarem mais essa lei idiota eles  acham que estão sendo justos com os menos favorecidos. 
Esses cidadãos que ficam inventando nomes e datas dizendo que é para comemorar alguma coisa não têm mais o que fazer? Será que eles não sabem que qualquer benefício do poder público para o povo deveria levar em conta a situação socioeconômica da família? Não importando se forem negros, brancos, albinos, mulatos, índios, ou de qualquer outra etnia? Quando criaram esta cota milhares de branquelos passaram a jurar que eram negros e filhos, ou netos de afrodescendentes.  Por que não criam o dia da consciência honesta para que todos possam sair às ruas e praças gritando bem alto: Eu sou honesto. Aí eu queria escutar quantos gritos se ouviria por esse imenso país afora, e tenho certeza que  em muitas ruas, bairros, e cidades inteiras o silêncio reinará absoluto.
Eu queria uma nova lei áurea. Uma nova abolição que libertasse os verdadeiramente pobres de todas as raças e cores do jugo dos políticos sacanas que ditam leis também sacanas que roubam os sonhos das pessoas. 
O nosso país só ficará livre de todos os preconceitos quando a justiça deixar de ser cega para os crimes cometidos por pessoas ricas e poderosas e punir com rigor quem agredir outras por causa da cor da sua pele, da sua pobreza ou da sua crença. Poderiam criar também o dia da consciência de justiça para que todos os injustiçados pudessem sair às ruas e praças gritando bem alto: Queremos igualdade independente da cor da pele, do cabelo crespo ou liso, dos olhos arregalados ou puxadinhos, ou da fé que professamos. Queremos escola, lazer e saúde de qualidade para nossos filhos, seja ele um negrinho ou um branquelo azedo. Não queremos cota nas universidades, exigimos o mesmo tratamento para disputarmos de igual para igual com todos que se formam doutores nesse país das desigualdades. Nos indignamos com o estacionamento das universidades públicas com seus carrões afrontando o aluno pobre que sequer teve acesso a uma escola pública de qualidade.
Ao criarem essas malditas cotas os políticos abriram brechas para todo tipo de falmacutaia. Por exemplo: o ENEM foi criado para avaliar o ensino das escolas públicas e assim que seu resultado passou a ser item de avaliação para se entrar em uma universidade rapidamente foi estendido às escolas particulares abrindo espaço para a criação de cursos preparatórios para atender e preparar os filhos preguiçosos da elite. Ao criarem estas cotas os ricos passaram a matricular seus filhos em escolas públicas de manhã e em escolas privadas à tarde, ou vice e versa. E as vagas nas universidades que teoricamente seriam dos pobres, com certeza continuaram e continuam sendo ocupadas pelos filhos da elite.
É preciso abrir as portas do que é público para dar acesso somente aos mais necessitados.
Se um dia o grito da consciência de justiça acontecer todos os outros poderão ser esquecidos nos foi dito pelo ator norte americano MORGAN FREEMAN

Um comentário:

  1. Bom dia, Geraldo
    Obrigada pela presença no meu blog, gostei muito, ótima postagem, se criassem o dia da consciência honesta seria maravilhoso, que possamos sempre valorizar cada ser humano pela sua forma singular de ser, um forte abraço.

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