BETIM, UM PARAÍSO SENDO DESTRUÍDO
SÓ PRESERVA QUEM SENTE SAUDADE
Publiquei esse texto em 2006, agora o RIO BETIM morreu definitivamente, e o São Francisco continua sua agonia em seu leito de morte.

Todas as manhãs
faço um trajeto de meia hora para pegar o ônibus que me leva ao trabalho. Não
é por falta de condução, e sim pelo prazer de caminhar.
A pista de
caminhada feita pelo homem margeia o que antes era um rio caudaloso e bonito e
que agora está muito feio, e cuja feiura também foi provocada pelo homem.
Apesar de tudo
ainda é um bom lugar onde centenas de pessoas caminham para manterem o corpo em
forma.
Todos elogiam a
pista.
Poucos prestam
atenção no leito profanado de um antigo rio que insiste em ser referência: A
pista é ao lado de um rio.
Não sei como alguém
pode continuar usando o rio como referência.
Ele já não existe
mais.
Será que todos já
nascemos sabendo como agredir a natureza?
Na minha cidade tem
coleta seletiva do lixo.
Muitos não
separam.
Outros colocam o
lixo antes do horário e fora do dia da coleta.
E ele se
espalha.
Como um lixo pode
se espalhar sozinho?
Ele é espalhado!
É muito difícil
mostrar para a maioria das pessoas que é preciso preservar a obra prima que foi
concebida quando Deus olhou e “Viu que tudo era bom”.
Eles não sentem
saudade!
Eles não conheceram
um rio de água cristalina! Nunca viram um peixinho nadando livremente à
tona d`água nos regatos que corriam livremente em qualquer lugar.
Os meus filhos
nunca mataram gambá em nenhum quintal.
Não sabem o que é
gabiroba, cagueiteira e araçá.
Nunca comeram um
pêssego ou um caqui apanhado direto do pé, e de preferência no quintal do
vizinho.
Nunca viram um
moinho movido a água.
As fotos e os
filmes só falam para quem viveu na época em que a natureza era parte integrante
da vida de todos. Mostrar uma foto ou o filme de um de um rio em
agonia, de uma árvore arrancada em nome do progresso, de um peixe tentando
respirar, de um pássaro sem lugar para pousar já não consegue mais provocar sentimento
de revolta.
O máximo que alguém
irá dizer é: Era muito bonito.
E era!
Mas só preserva
quem sente saudade! Felizes nós acima dos cinquenta anos que vamos
morrer levando na lembrança um pouco da beleza primitiva que Deus criou para
todos. Infelizes nós acima dos cinquenta anos que vamos morrer deixando como
herança maldita uma natureza morta para as futuras gerações.
E quando formos
questionados pelo Artista maior, o que diremos?
Foi preciso
desmatar para construir casas para as pessoas. Foi preciso desmatar para
construir móveis para pessoas. Foi preciso desmatar para construir fábricas e
dar emprego para as pessoas.
Foi preciso
desmatar e desviar os rios e destruir as nascentes para que as grandes empresas
mineradoras pudessem explorar e roubar nossas riquezas minerais que foram
criadas para todos.
Tudo foi concebido
para as pessoas e tudo foi destruído pelas pessoas que na sua visão, tudo
foi destruído para construir.
Ninguém tem coragem
de dizer que tudo foi destruído pela ganância. Que tudo foi destruído pelo
maldito dinheiro que desde a criação, mesmo com outro nome, já corrompia a
mente do ser humano.
Ainda dá tempo.
Se os jovens
quiserem consertar o que estragamos e reconstruírem o mundo a partir da lição
que não tiveram. Se os jovens quiserem lutar pela ecologia e
esquecerem a lógica da concorrência frenética por status e dinheiro, a vida na
terra ainda pode durar alguns séculos. Do contrário, quando a velhice
chegar, todo o conhecimento adquirido, toda a tecnologia alcançada e toda
fortuna acumulada não serão capazes de encher um copo de água.
Nós não fomos bons
professores, porque quando não ajudamos diretamente na destruição, também não
lutamos pela preservação e nunca exigimos respeito à natureza.
A palavra Ecologia
ainda não existia, hoje é palavra proibida e não soubemos captar sua essência
para repassar aos nossos filhos.
Que o Deus que nos
criou para cuidar de toda a sua criação nos perdoe, e que as futuras gerações
possam renovar a aliança com este mesmo Deus.
Como fez São
Francisco de Assis que abandonou sua vida de riqueza para cuidar dos pobres e
ser o maior defensor da natureza de todos os tempos.
Como fez Chico
Mendes que deu a vida para defender o que era de todos. Como fizeram muitos
mártires anônimos que também deram suas vidas em defesa da vida de todos nós
que nos omitimos e contribuímos para a destruição do nosso planeta.
Precisamos
continuar sentindo saudade da natureza exuberante que nos encantava quando
éramos jovens. Precisamos falar para os mais jovens o quanto esta saudade nos
incomoda, para quem sabe, um dia eles possam olhar para a natureza com um olhar
de preservação que lhes garantirão um futuro com um ar mais puro, uma água mais
cristalina e um sol que continuará aquecendo e uma lua que continuará
encantando a todos
E que amor seja o elo
entre o ser humano, a natureza, e o Criador.
Concordo contigo. Precisamos proteger a água de nossa própria inconsciência.
ResponderExcluirAbraços.
Ana Rocha
Líder de Processos da Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento Básico do Estado da Bahia)