Esta
é uma história que não pode começar como todas, (era uma vez). Eu a estou contando para o meu filho de seis
anos, e quero falar no presente, como se tudo fosse verdade. Eu poderia dizer que o enredo se dá na
floresta amazônica, ou em qualquer outra, mas prefiro aproveitar a oportunidade
para denunciar um crime ambiental que estão cometendo contra a natureza aqui na
minha cidade e no meu bairro.
Portanto,
esta história terá o seu desenrolar dentro de uma área de preservação ambiental
que vai ser brutalmente mutilada, já que no seu entorno apareceram as malditas
placas de” é proibido a entrada, e, “propriedade particular””. O que antes era um espaço de todos,
brevemente irá se transformar em um grande conjunto habitacional, ou um
loteamento para que a elite ganhe mais espaço, e os animais e as árvores cedam
lugar para os assassinos da ecologia. Como não posso dizer uma mata, a capoeira
está em festa e recebe a visita da maioria dos bichos que habitam as grandes
florestas, ou estão confinados em um zoológico olhando o bicho homem do outro
lado da grade, ainda se achando o rei dos animais.
Entre
todos os animais, uma família tem motivos de sobra para estar em estado de
graça. O líder dos macacos vai ser papai de novo. A dona macaca já exibe para
todo mundo a barriga que carrega o futuro herdeiro. Que nome dar a estes
personagens?
Vou
deixar esta tarefa para o meu filho, e se alguém não gostar dos nomes, mande
uma sugestão, talvez ele goste e queira mudar.
O
nome do pai poderia ser Simão, mas todo macaco tem este nome, então o nosso
chefe se chama Timão, e ele está todo orgulhoso porque espera que desta vez
venha um macho, já que Pitoca, Biloca, Dimba e Bimba são quatro macaquinhas que
aprontam todas, e que nada ficam a dever aos machos em matéria de peraltice, e
elas estão torcendo para vir outra menina, porque não querem saber de nenhum
macho mandando no pedaço.
À
medida que o tempo vai passando a maioria dos animais vão chegando para visitar
e trazer um presente para a mamãe Zoé, ou para o pequenino que vai nascer. Os passarinhos ficaram alvoroçados e vieram
dizer que irão construir um enorme ninho para que o garoto macaco possa dormir
bem quentinho. A Jiboia prometeu que não
vai engolir o pequeno, e que vai enrolar-se toda para que ele possa descansar
num lugar bem macio. As fêmeas do grupo teceram uma enorme rede com folhas bem
verdinhas para que o futuro herdeiro possa se balançar confortavelmente. Os coelhinhos vieram com sua mamãe trazendo
um pé de coelho que ela própria confeccionou, para dar sorte na hora no parto.
O Jaboti e a Tartaruga quase pegaram no tapa para ver quem vai dar o casco que
servirá de berço para ele dormir. As
Hienas prometeram que vão dar sonoras gargalhadas para alegrar o pimpolho. A
Zebra veio para dizer que assim que ele crescer, vai dar grandes galopes com
ele no lombo.
A
Girafa disse que não abre mão de ser seu tobogã, e assim que ele estiver
maiorzinho vai colocá-lo na sua cabeça para que possa ver as estrelas mais de
pertinho, e brincar de escorregador.
A
mamãe Búfalo disse que não abre mão de amamentá-lo pelo menos uns dois dias por
semana.
O
Lobo disse que antes que ele durma, vai ficar bem quietinho, mas assim que ele
dormir vai uivar o mais alto que puder para que a lua mande seus raios iluminar
o berço do futuro líder.
Todos
estão esperando que seja um macho. O Gato e o Cachorro do mato prometeram não
brigarem por um bom tempo, para não atrapalharem o sono dele enquanto não
aprender a pular de galho em galho. O Tatu veio para dizer que vai cavar o
buraco mais fundo que puder para quando ele crescer poder brincar de
esconde-esconde. Assim que ficaram sabendo que a família do Timão ia aumentar,
os peixes prometeram dar grandes saltos fora d’água para alegrar a vida e dar
um colorido diferente no ambiente.
Agora
é só esperar o dia do nascimento.
A
Coruja com sua sabedoria disse que, pela sua experiência, a Zoé pode ficar
sossegada porque ainda vai demorar uma semana.
Estava
tudo preparado.
Parecia
que estava para nascer um rei.
Falando
em rei, o Leão disse que tinha decretado uma trégua, e que nenhum animal vai
atacar o bando dos macacos enquanto o menino não estiver subindo na maior
árvore existente na capoeira.
A
capoeira estava em festa.
Foi
uma semana de muita correria.
E
finalmente, o tão esperado macaquinho nasceu. Talvez um líder. Talvez o novo chefe dos macacos da capoeira.
Segundo
meu filho Marcus, seu nome será Nino, mas aceita sugestão para mudar. Será
daqui a alguns anos ainda haverá lugar para nascer um animal? Ou o único que
vai continuar existindo será o bicho homem, que com a sua ganância terá
destruído toda a fauna e flora?
Hoje,
este nascimento pode estar sendo realidade em muitos lugares do mundo, mas até
quando, se no centro de uma cidade, uma área de preservação está sendo
destruída?
O bicho homem precisa parar para pensar.
O bicho homem precisa parar para pensar.
Pode
ser que em bem pouco tempo não haverá lugar para o nascimento do seu próprio
filho, e aí sentiremos falta dos macacos, e de todos os animais que eram donos
e senhores do nosso planeta.
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