Escrevi este texto em maio de 2006. Alguma coisa mudou?
Sempre que escrever sobre problemas
sociais que causam o abandono dos pobres vou começar pedindo desculpas às
exceções, porque espalhado por esse imenso país verdadeiros anjos de carne e
osso cumprem com dignidade e amor o papel que deveria ser da família, do poder
público e de muitas outras pessoas que insistem em ignorar a miséria e a fome
sofrida pelos deserdados do poder. Muitas pessoas ficam tristes na frente
do televisor vendo as imagens que mostram pessoas subnutridas morrendo de fome
nos países pobres, principalmente na África. Mas uma grande maioria não quer
entender que aqui no nosso país isso acontece bem na nossa porta e nós preferimos ignorar que abandono dos pobres à sua própria
sorte é com certeza ignorar a presença de Deus. Quero fazer um alerta aos jovens que
serão os pais da futura geração: Se vocês não mudarem a maneira de ver o futuro
e não se prepararem para uma luta ferrenha contra as injustiças sociais e
contra a degradação do meio ambiente, o futuro do mundo, e principalmente do
nosso país será de muito sofrimento, sangue e dor.
Isto já está acontecendo.
Se as pessoas em condição de prestar
algum tipo de ajuda emocional, educacional ou financeira não tomarem
posicionamento e se mobilizarem para lutar contra a miséria e a fome, a situação
vai ficar insuportável. Se os asilos continuarem abandonados e os nossos idosos
e idosas sendo exploradas por seus filhos e neto e outros familiares vai chegar
um momento em que todas essas portas também se fecharão. O governo não criou um
meio termo entre o hospital e o asilo, e por isso, quando uma pessoa está
ocupando o leito de um hospital sem que a medicina possa fazer mais nada para
curá-la, ela é devolvida para casa ou jogada em um asilo para morrer ao lado de
pessoas estranhas que vivem ali. Se as crianças continuarem morando nas ruas
como cachorros sarnentos e nos abrigos que continuam torturando os jovens
internos for a única esperança para quem não teve em quem se apoiar na hora de
formar sua personalidade, com certeza seremos um país com muitos assassinos e
ladrões.
Quem vai proteger os filhos da nova
geração?
Quem vai proteger os seus netos? Se
a justiça social não for além da uma cesta básica ou de um vale qualquer coisa e
não procurar atingir o cerne que causa a miséria... O futuro vai nos apresentar
uma legião de marginais controlando cada rua das cidades sob o comando dos
traficantes e dos seus financiadores, que quase sempre são “empresários
gananciosos, políticos corruptos, agentes da lei e pessoas que ocupam cargos em
todas as esferas dos governos. Se não agirmos depressa esses “donos” serão a
lei, a justiça e o juiz que julgará os herdeiros de quem cruzou os braços
diante da miséria. É hora dos pequenos e grandes empresários e das pessoas com
melhor poder aquisitivo investirem na educação de jovens e crianças da
periferia e pararem de dar esmolas nos sinais de transito achando que
estão fazendo caridade. Em um país onde o político é inatingível pela lei e o
pobre é como uma mercadoria de segunda em liquidação, precisamos fazer um mutirão
para cobrar a quem de direito para que a riqueza do país seja usada na
transformação dos pobres abandonados em seres humanos de verdade. Na
década de oitenta o governo fechou os manicômios que eram locais de tortura e
"devolveram" os internos os internos para suas famílias.
E fico pensando...O que era ruim? O Manicômio, ou a forma como eram
conduzidos os procedimentos e o comportamento dos que eram pagos para cuidar
dos doentes? Para os que podem pagar uma casa de acolhimento da iniciativa
privada a lei não provocou nenhuma mudança significativa porque é só levar o
parente para uma dessas casas e fingir que ele não existe. Imaginem a angústia
de uma pessoa que precisa trabalhar todos os dias e ter que deixar uma pessoa
com algum distúrbio mental convivendo com sua família, e por quanto tempo isso
será possível? Na semana passada a polícia militar da minha cidade fechou uma
casa onde um “religioso” mantinha dez seres humanos trancados, com fome e sem
higiene pessoal como se fossem animais sem dono. Para entrarem na casa
para retirar essas pessoas foi preciso usar três máscaras descartáveis ao mesmo
tempo. Os policiais percorreram vários lugares e ninguém quis acolhê-los,
até as casas mantidas com dinheiro público alegaram falta de vaga. Quando não
se consegue uma vaga para acolher a imagem e semelhança de Deus, não é possível
improvisar? Nós da SSVP os acolhemos. O Lar Vicentino Divino Ferreira
Braga improvisou. Os albergues públicos, então, são verdadeiras aberrações,
"recolhe" o pobre como se fosse lixo, dá-lhe um banho e um prato de
comida como se fosse um cachorro e o devolve de volta para as ruas para
continuar percorrendo sua via-crúcis e continuar cumprindo sua pena de
condenado pela pobreza. Por que não fazer desses lugares um centro de triagem para
colocar na cadeia os que são de cadeia e tirar definitivamente da rua o pobre
que não tem para onde ir?
Muitos dirão que isto é impossível!
Mas nada é impossível quando o amor
e a caridade vêm em primeiro lugar.
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