Estou tentando escrever e descrever este
desabafo e quero pedir desculpas aos profissionais médicos e médicas que
juraram salvar a vida de todos e todas que os procuram para que lhes arranquem
suas dores. O episódio que tentarei descrever abaixo mexeu com o emocional de
muitas pessoas e principalmente com o meu. Uma das tias da minha esposa, hoje, com
noventa e seis anos de idade, que há muito tempo está refém do Alzaimer e
da falta de circulação sanguínea foi mais uma vez levada a uma unidade de saúde
pública da minha cidade e depois de alguns dias a transferiram para o Hospital
Regional. Depois de vários dias em observação o médico que a atendia chamou um
dos filhos pedindo autorização para amputar as pernas da paciente. Foi como se
este médico tivesse dado um bofetão na cara daquele filho que procurava mais um
pouco de vida para sua mãe.
E ele conversou com seu irmão e
irmãs e com outros parentes. A decisão foi unânime:este procedimento está
totalmente fora de cogitação.
Não conheço o médico que talvez tenha
achado que esta seria a melhor solução, mas será que se fosse alguém da sua família ele
teria tomado a mesma decisão?
Amputar as duas pernas de uma senhora
com noventa e seis anos de idade que está esperando a hora de ir encontrar-se com o Criador não é um procedimento brutal demais?
Quando eles a devolverem para casa, os
filhos estariam olhando para sua mãe ou para um pedaço de gente que alguém,
mesmo com muito conhecimento, fez questão de mutilar?
Antes dela ser levada para o hospital,
de vez em quando eu a visitava e ficava alisando seus cabelos brancos e via no
seu rosto que ela recebia este carinho com alegria. Então, eu disse para uma
das suas filhas: quando a tia tiver ido encontrar-se com o criador e eu voltar aqui,
quero me lembrar dela sentada naquela cadeira e me recuso a lembrar de um
pedaço de gente que foi mutilado pela falta de bom senso e de sensibilidade de
quem deveria lhe proporcionar mais um pouco de vida.
Mais uma vez, com todo respeito aos profissionais
da saúde, será que alguns deles realmente acham que alguém que já viveu mais de
noventa anos continuará vivendo procurando as pernas que lhe tiraram?
Parece que alguns profissionais médicos
ainda não entenderam que uma vida só se vive por inteiro, e que uma pessoa ao ficar
em uma cama procurando a parte do seu corpo que lhe foi tirada, com certeza
saberá que já morreu.
Hoje, dia 09/06/2022 as onze horas da manhã a Tia Zeferina deu adeus a este mundo e foi se encontrar com o Criador.
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