Tenho refletido muito sobre a morte nesses
últimos dias. Sei que é um assunto que poucas pessoas
pensam, e que muitas sentem até pavor. Resolvi escrever porque na semana passada
ela passou bem perto da minha casa, e levou um jovem engenheiro de cinquenta e
três anos que curtia o carnaval com a família. Era meu vizinho de muro. Era saudável e cheio de vida, agradável no
tratar, e nada nele demonstrava que estava perto do fim. E um infarto fulminante o levou para o
outro lado. A morte não brincou. Quando fiquei sabendo foi como se tivesse
sentido seu sopro no ar do meu quintal. O seu mistério, ou a sua incompreensão é
alguma coisa de fascinante. Não estou falando dessas mortes estúpidas
que acontecem em assassinatos brutais, em acidentes de trânsito violentos
ocasionadas por motoristas bêbados, por veículos na contramão, e nem dos erros
médicos, e tão pouco da morte por abandono em uma unidade de saúde. Falo da morte natural. Natural! Coisa mais ridícula! Para todo ser humano que tiver um pouquinho
de bom senso, o natural deveria ser somente a vida, e a morte apenas uma
consequência dela. Não um destino. Vejamos. Um jovem de cinquenta e três anos,
bem-sucedido na vida, morre de infarto pegando todo mundo de surpresa. No asilo, alguns moradores estão acamados
há mais de dez anos, sendo alimentados como se alimenta um filhote de
passarinho, de grão em grão. Deve ser por isso que resistem! A morte impulsiona a vida. Todos sabem que após a morte de um ente
querido, apesar do vazio, a vida tem que continuar. O grande mistério é não saber a hora em que
ela virá nos visitar. Diagnósticos médicos já falharam e
continuarão falhando ao tentar prever o tempo de vida das pessoas. Corpos saem
ilesos quando escapam de acidentes terríveis, e muitas pessoas saem do coma
para contar experiências de talvez terem conhecido o outro lado da vida. As religiões dizem que o outro lado não é a
morte e chegam até a afirmar que é a continuação da vida. Talvez eu seja um ateu não assumido, é que
às vezes acho difícil assimilar que isso seja verdade. É claro que acredito no Deus da vida, e é
isso que me impulsiona a ter a caridade como minha principal religião. Acredito
que o Sagrado rege o mundo e a nossa vida, mas cada um procura e constrói o seu
próprio céu, ou seu inferno ao escolher sua maneira de viver. Quando morrer ninguém terá que prestar
conta de nada. Nem crédito, nem débito. Já pagou sendo feliz se viveu no céu, ou
sofreu quando deu o calote e viveu no inferno. A moeda tem dois lados e quando é jogada
para o alto um dos desses lados cai e fica na terra. Assim é a vida. Um dos nossos lados. fatalmente, dia menos
dia, irá ficar na terra, ou seremos um monte de cinzas jogadas ao vento, ou
guardada em um pequeno baú. A morte é a nossa verdade absoluta. A vida não. Ela não tem um tempo determinado, mas
sempre tem que continuar. Morrer não depende da vontade de cada um,
nem mesmo para o suicida, porque não foi no ato de morrer que ele perdeu a
vida, ele há havia perdido há mais tempo Então, como a morte é a única certeza. É preciso desfrutar intensamente os anos ou
os dias que nos restam. Repartindo aquilo que temos de melhor. A...
VIDA
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aqui você é muito bem vindo. Seu comentário ajuda na construção desse espaço de liberdade
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aqui você é muito bem vindo. Seu comentário ajuda na construção desse espaço de liberdade