Fico observando os filhos visitarem os
pais no Lar Divino Ferreira Braga, um asilo de caridade da Sociedade São
Vicente de Paulo na minha cidade.
A maioria dos moradores são visitados pelos parentes nos três primeiros meses,
mas depois são apenas lembranças e menos um estorvo para serem cuidados dentro
de casa. De vez em quando alguns são levados para almoçarem nas suas casas
um dia de domingo. Como presidente do Lar não sei se isto é bom para os
moradores, porque não deve ser nada agradável ficar remoendo velhas lembranças.
Filhos cuidando dos pais.
Quando se tem uma boa condição financeira tudo é muito simples. E quem não tem
dinheiro para contratar? Coloque-se no lugar de um assalariado que
precisa trabalhar para sustentar sua família. Quando seu ente querido precisar
de acompanhante em um hospital, esse cidadão terá que parar de trabalhar?
Somente duas categorias de pessoas tem plenas condições de ser acompanhante: os
funcionários públicos e os ricos que sem nenhum problema financeiro conseguem
pagar mão de obra para tal procedimento.
Quem cuida de quem?
Se as Instituições de caridade não cuidarem destas pessoas, os governos terão
condições de assumir tão sublime tarefa?
Vejam por que penso assim: Um pai, uma
mãe ou um irmão ficam o tempo inteiro sentados olhando para as paredes ou
agarrados nas grades das janelas do asilo olhando para a rua como se fossem
prisioneiros da amargura. E num domingo de manhã é levado para almoçar com a
família, com os irmãos, com os filhos, com a esposa ou marido e netos ao seu
redor. À tarde é devolvido para seu quarto do asilo que mesmo com todo o
conforto se parece muito com a cela de uma prisão.
Hoje travei um longo diálogo com uma
amiga advogada que é mais uma adepta da lei contra o asilamento das pessoas.
Falávamos sobre o Estatuto do idoso, que no papel nos dá a impressão de que nós
da terceira idade viveremos num paraíso. Este estatuto obriga as pessoas
cuidarem dos seus parentes, em muitos casos, nada queridos. Os legisladores não
levaram em consideração a condição socioeconômica das pessoas que em muitos
casos não têm nenhuma condição financeira ou emocional para assumir tal
responsabilidade.
Irmãos cuidando de irmãos.
Netos cuidando dos avós.
Isto seria viver no paraíso.
Infelizmente a realidade é outra, e
muito mais perversa.
A crueldade é real.
Esta realidade nos mostra filhos e netos
explorando seus pais e avós, e assistimos também o sacrifício desses avós que
são obrigados a cuidarem dos seus netos.
O estatuto também prevê que: “Todo idoso
tem direito a um acompanhante quando estiver hospitalizado” com a alegação isso
ajudará na recuperação do paciente. Os hospitais públicos transformaram este
direito em obrigação alegando falta de funcionários. Os legisladores sabem
que a maioria dos acompanhantes são pessoas estranhas contratadas para tal
função? Hoje, junho de dois mil e dezenove, a remuneração de acompanhantes em
dois turnos custa ao parente a quantia de R$ 200,00, ou seja, R$ 6.000,00 por
mês.
Enquanto isso, milhares de técnicos e
auxiliares de enfermagem que pagaram caro por um curso na esperança de um
emprego estão desempregados enquanto uma grande maioria dos políticos e
funcionários públicos corruptos, (existem belas e magnificas exceções),
descaradamente desviam as verbas destinadas à saúde para os seus bolsos.
Já que estamos falando de saúde e de
cuidados, vejamos. Uma pessoa pobre
tem condição de cuidar de outra?
Vamos ser bem práticos: Quantas
pessoas você conhece que pode levar um pai, uma mãe ou um irmão com problemas
mentais ou outra enfermidade para dentro de suas casas deixando-o ficar com
seus filhos enquanto o casal sai para trabalhar?
Em sã consciência, nenhuma!
E vem um político, com a conivência de
muitos psiquiatras e psicólogos, e fecham as casas de acolhimento para pessoas
com problemas mentais com a balela de que é preciso socializá-las.
Eu disse acolhimento, não de
tortura como eram os antigos Manicômios, onde funcionários sem escrúpulos e sem
alma recebiam salários para torturarem pessoas. Quando fecharam essas
instituições agravaram o convívio familiar das pessoas mais pobres que de uma
hora para outra tiveram que alterar toda rotina da família.
E todos os anos assistimos pessoas que
nunca sofreram na pele as tristezas de verem suas casas se transformarem em
hospício indo para as ruas comemorarem o dia ANTI MANICOMIAL.
Precisamos sim, de mais casas para
acolher pessoas com problemas mentais. Casas como o Lar Vicentino Divino
Ferreira Braga em Betim-Mg; que cuida de cinquenta moradores, na sua grande
maioria com problemas mentais por doença ou por velhice, e que são cuidados com
carinho e respeito que todo ser humano merece de deveria ser cuidado. O Lar
Vicentino mesmo sendo uma instituição de caridade, também paga acompanhante
quando um dos seus moradores é internado no hospital público da cidade porque
os empregados que cuidam da casa são insuficientes para esta tarefa.
Ou todos os idosos e doentes mentais
terão que perambular pelas ruas como
cachorros sem dono? Infelizmente
esta sacanagem não vai acabar, mas eu desabafei.
Olá estimado Geraldo,
ResponderExcluirLi sua postagem duas vezes, não por ela ser extensa, mas porque eram várias, as situações referidas.
Lares, Terceira Idade é coisa para esquecer. São "lixo", pensam, quase todos.
Os filhos trabalham , não podem cuidar de seus pais, mas seus pais cuidaram deles, enquanto eles eram pequenos. Então? Onde está a reciprocidade? E os pais ainda dizem: não quero prejudicar nem importunar a vida de meus filhos. Nossa! Têm mais é que exigir.
Se pode deserdar filho, sabia? Pelo menos em Portugal, é assim, mas poucos o fazem, porque, filho é herdeiro legítimo e natural. Natural e legítimo seria o filho dar amor e acolhimento a seus pais.
Concordo com aquilo que a advogada disse pra você.
Segundo entendi, você é Presidente do Lar, portanto preside aos destinos dessa gente, certo? Meritório cargo. Os meus Parabéns!
Seus textos são sempre, ou quase sempre sociais, não tinha entendido o porquê. Agora, compreendo.
Bom fim de semana.
Abraços da Luz.
Olá estimado Geraldo,
ResponderExcluirNão dei por nada, nem ouvi sua respiração. Chegou em bicos de pés, tenho certeza.
Quero agradecer a sua falta de sono, vindo me ler, se encontrar com as minhas palavras, comigo, na imaginação. Lhe dê um beijo por mim.
Eu dormia, que nem princesa, com os meus zeladores à minha volta: os anjos e você estava no meio deles.
SONHAR É TÃO BOM E O PODER DA MENTE É ASTRONÓMICA, PERFEITA.
Obrigada pela visita. Volte sempre.
Abraços da Luz.
Oi Geraldo, Isso seria uma maravilha se algo foi real assim.
ResponderExcluirPais cuidando dos filhos.
Filhos cuidando dos pais.
Irmãos cuidando de irmãos.
Netos cuidando dos avós.
Isto seria viver no paraíso.
Infelizmente a realidade é outra.
A crueldade é real.
O mundo é real demais e machuca mais do acolhe.
Grande abraço!
Pois bem amigo.Leis e mais leis se criam para não serem cumpridas,pois eles mesmo arranjam como burla-la.É como dizer para ensinar a pescar paa quem mora no sertão onde o peixe so aparece em lata de sardinha com data quase vencida com preço reduzido.Vivemos num pais perverso onde o desrespeito é enorme aos teoricamente incapazes,como crianças e idosos,doentes ou não.Cada vez mais empurra para a familia a responsabilidade por tudo, inclusive acompanhar e cuidar de doenças que não requerem internamento especializado como era o caso de varios doenças como tuberculose,loucura e etc.Mas se a familia vive a beiras da miseria,todo este discurso vai por agua e encontramos estes seres abandonados pelas avenidas e viadutos.O Brasil não acordou para a crise social profunda que temos, onde o bolsão aumenta gradativamente,sem nenhum plano que faça controlar a natalidade,principalmente nos lares mais pobres.O asilamento é muitas o paraiso para estes seres desprovidos de toda sorte.Há uma convivencia com iguais e em muitos há um carinhos vindo dos funcionarios fazendo do espaço,mais do que um casa de repouso, uma familia.
ResponderExcluirParabens pela lucida critica e reflexão.
Os direitos do homem deveriam ser mais respeitados.
E tem mais enquanto aceitarmos estas corrupções como coisa normal, não poderemos crer numa mudança de situação.
Triste realidade amigo.
Um abração mineiro de admiração e paz.
Parabéns pela postagem. É a primeira vez que vejo algo tão objetivo e pertinente sobre esse tema e que mostra um conhecimento verdadeiro e real em contraste com as utopias relatadas em outros sites, que só mostram os preconceitos de pessoas que só sabem olhar para seu próprio umbigo e acham que vivem no mundo real.
ResponderExcluirUm grande abraço e parabéns mais uma vez.