Márcio Melo Franco
A Humanização é uma exigência ética para a promoção dos cuidados em qualquer área das Políticas Públicas, quer seja na Saúde, na Assistência Social, na educação, etc. É a antítese da violência e da incomunicabilidade, características da cultura institucional gerada pela tecnologia moderna à custa do neoliberalismo. O entendimento dos direitos humanos depende do reconhecimento da dignidade do “outro”, que pode se efetivar através de:
RESPEITO, ACOLHIMENTO, ENCONTRO, DIÁLOGO e CUIDADO.
1- RESPEITO
É indispensável no tratamento das questões atinentes à humanização, independente da expectativa teórica a ser adotada. Kesselmein nos lembra que a palavra respeito vem do latim (“respicere”) que quer dizer “olhar para”. A humanização é um movimento de construção de uma sociedade de fato mais justa, solidária e fraterna onde através do respeito, utilizamos dos instrumentos do Acolhimento, do Encontro, do Diálogo e do Cuidado, para adentrarmos na alma daquele que sofre.
2- ACOLHIMENTO
Acolhimento é o ato ou efeito de acolher: é refúgio, abrigo, agasalho, atenção, consideração, dar ouvidos a, aceitar; “deixar-se afetar pelo outro”. É descobrir nossa humanidade mais profunda na relação com o outro e deixar que o outro descubra em nós sua humanidade (Mariotti). Os sujeitos que procuram assistência, vivenciam um processo de fragilidade causado pelo impacto do infortúnio e têm uma trajetória de vida marcada pela discriminação e pela exclusão. Aí, acolher esses sujeitos e sua família significa compreender a essencialidade de sua condição dando centralidade ao sujeito e não a seu infortúnio. Faz-se necessário então construir relações mais próximas, empáticas e solidárias. Acolher é imaginar-se no lugar do outro para poder avaliar suas angústias, dificuldades, sofrimentos, bem como suas expectativas e potencialidades, suas escolhas e projetos de vida. Ao acolher, constroem-se vínculos afetivos, e a afetividade é a condição essencial para se construir ligações produtivas e relações fraternas e solidárias. Quando exercitamos o afeto, deixamos nos afetar pela presença do outro. Acolher é incluir. Mas não podemos confundir acolhimento com piedade, pena ou compaixão; acolhimento exige construção de laços de solidariedade capazes de estabelecer uma igualdade entre os diferentes: para a solidariedade é necessário respeito, admiração e reconhecimento do “outro”.
3- ENCONTRO
A comunicação ou não-comunicação das pessoas depende de que haja ou não seu encontro entre elas. Hanah Arendt em sua reflexão política nos faz compreender que ”... a Liberdade em sua essência pressupõe Encontrar com os outros em palavras e ações para ‘compartilhar-o-mundo’”. Quando me disponibilizo ir ao encontro do outro, estou exercitando a capacidade de descentrar de mim mesmo para construir uma relação onde o outro também ocupa um lugar importante. Ao assumir um encontro como um espaço privilegiado de “aparecimento” da plenitude humana, todos têm o direito de igualmente serem vistos e ouvidos; o profissional afasta-se da perspectiva equivocada de assumir a postura de “porta-voz da verdade”, onde concentra de forma autoritária a atitude de dizer/ decidir o que é melhor para o sujeito e sua família; aí, não há lugar para a singularidade e alteridade, tampouco para o reconhecimento da pluralidade inerente à condição humana. O encontro com o outro que sofre e que se enfrenta no limite da dor e por isso se assume como “diferente” e se reconhece como único e insubstituível, é um espaço de criação. O encontro é uma ação levando a uma atitude reflexiva sobre uma realidade concreta.
4- DIÁLOGO
É a valorização do estatuto ético da palavra: A dialogicidade nos possibilita a valorização do “outro” como pessoa-sujeito, pela apreensão de seu próprio vivido; é aí que nós nos colocamos na condição de observador para fazermos a leitura dos significados de sua postura, gestos, silêncio, sorrisos, lágrimas... Saber escutar é fundamental àquele que se predispõe a dialogar num clima empático e de respeito pelo outro que fala e comunica os significados de sua existência. A opção ética pelo diálogo é uma experiência democrática e humanizante. Através do diálogo, o homem por uma atitude reflexiva a partir de situações vividas, poderá levar a novos modos de ser (fenômeno da natalidade); é a possibilidade de começar algo novo (H. Arendt).
5- CUIDADO
Cuidar é mais que um ato, é uma atitude de ocupação, preocupação, responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro. O cuidado representa uma dimensão ontológica na constituição do ser humano, pois a sua condição de existir no mundo depende do cuidado recebido. Cuidado significa atenção, desvelo, solicitude diligência, bom trato, zelo; é a realização concreta do exercício da presença (L. Boff). Segundo Heidegger, a presença é o próprio cuidado. Ele é orientado por atitudes de Respeito, Consideração, Paciência, Esperança, Tolerância e Solidariedade.
6- ATITUDES PARA HUMANIZAÇÃO
6.1. Sensibilizar-se para reconhecer as demandas rumo à construção de relações de qualidade ética, justa e democrática.
6.2. Estabelecer como horizonte ético-político-pedagógico da ação profissional e valorização da autonomia do sujeito, considerando-os fins e não meios com liberdade de decisão.
6.3. Aprimorar a capacidade de escuta e da percepção dos gestos do sujeito.
6.4. Acolher o sujeito e a família, construindo laços de solidariedade capazes de estabelecer uma igualdade entre os diferentes; para isto exige-se respeito (olhar para), admiração e reconhecimento do outro como alguém capaz de reclamar, aceitar ou negar assistência e não simplesmente ser protegido.
6.5. Evitar a padronização e despersonalização dos atendimentos, compreendendo que só através do diálogo é possível reconhecer o outro e suas demandas.
6.6. Criar as oportunidades e espaços de encontros para poder exercer o acolhimento.
6.7. Tornar constante objeto de reflexão, a questão da interdisciplinaridade e da humanização de toda a Instituição.
6.8. Lembrar que cuidar é mais que um ato, é uma atitude de preocupação, ocupação, responsabilização e envolvimento afetivo com o outro (L. Boff); requer atenção, desvelo, solicitude, diligência, bom trato e zelo.
Referências:
1. Freitas, B. P.: O Assistente Social na Assistência Hospitalar e o Desafio da Humanização: Reflexões sobre as dimensões subjetivas da prática profissional, Tese de mestrado, PUC Rio, RJ, 2007.
2. Boff, L.: Ética e Espiritualidade, Campinas, SP: Verus Editora, 2003.
Texto escrito pelo Dr. Márcio Melo Franco (Secretário Adjunto da Secretaria de Saúde de Bettim- Minas Gerais)
Olá Estimado Geraldo,
ResponderExcluirComo vai?
Todas as vertentes apontadas no texto do Dr.Mário Melo Franco, e por você postado, são de uma grande importância.
Humanização não deve ser apenas conceito.
Abraços plenos de luz.
Oi Geraldo, passei pra ler o post que me falaste, e deixei meu comente lá. Esse texto é uma reflexão pra vida e muito bem tecido. Gostei dessa parte que é essencial na humanização."Cuidar é mais que um ato, é uma atitude de ocupação, preocupação, responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro. O cuidado representa uma dimensão ontológica na constituição do ser humano, pois a sua condição de existir no mundo depende do cuidado recebido. Cuidado significa atenção, desvelo, solicitude diligência, bom trato, zelo; é a realização concreta do exercício da presença" (L. Boff).
ResponderExcluirBjs!
Smareis
Esqueci de falar, todos os comentários que vc enviou entraram rs. O Google está com problema sério, o blogger também. Desde domingo não consigo comentar em vários blogs. Espero que tudo se resolva logo. Abraço!
ResponderExcluirSmareis
Muito boa postagem deste Neurologista,ja tinha lido algo dele e aqui esta refelxão é perfeita e rica sobre a relação com belas difnições.
ResponderExcluirBela escolha amigo.
Meu abraço.