Raramente
vou a um shopping para passear, e muito menos para fazer compras. Ultimamente
tenho ido para passar o tempo esperando uma pessoa que me dará carona depois de
mais um dia de trabalho. Fiquei observando os manequins das lojas de roupas e
sem querer, comecei a pensar... E se eles falassem? Coitados de nós pobres
mortais!
-Pierre
você está vendo aquele careca de óculos que fica olhando para nós todos os dias?
Ele nunca entrou na loja, pelo jeito deve ser pobre. -Claro que vi Dany, até
parece que ele quer conversar com a gente. Quase não resisti e falei com ele.
Ele estava como nós, parado. Só observando!
-Pior!
-Ninguém olha para ele, e para nós todos os olhares se voltam.
-Você
está viajando? As pessoas olham somente para as roupas. Esqueceu que somos
bonecos gigantes sem cor e sem vida? Pelo menos é o que todos pensam! O dia
aqui é muito enfadonho, não vejo a hora de fechar e essa turba toda ir dando o
fora para podermos vestir a roupa que quisermos. É um saco ficar mostrando
aquelas peças horrorosas que os ricos chamam de moda e que usam para se sentirem
importantes e chiques. Ser manequim de loja de grife é mais saco ainda, é cada
dondoca e cada bruaca que aparecem para nos torrar a paciência, que dá vontade
de sair da vitrine e lhes dar uns bons tabefes.
-Você
lembra Paty, aquelas duas que reviraram a loja inteira experimentando peça por
peça, e sem comprarem nada saíram dizendo que não gostaram? -Me deu uma raiva
danada quando aquela gordinha disse que este modelito que estou usando não lhe
cai bem. Pudera, com uma bunda daquele tamanho! -E aquela magricela que
experimentou aquela calça que foi sucesso no desfile, e disse que não ia levar
porque ficou muito larga?
-Também,
com uma bundinha murcha como a dela, queria o quê?
-Aparece
cada figura se achando o máximo, mas quando vê o preço sai correndo.
-Sabe Pierre,
o que eu gosto mesmo é ver as pessoas passando. Tem cada coisa ridícula!
-Tatuagens
em muxibas e pelancas. Chinelos de dedo mostrando o calcanhar todo rachado parecendo
que trabalham na roça. Barriga de fora com cada umbigo que mais parece um ânus.
-E os
que ficam comendo salgadinhos baratos, desses que se compram no camelô? Dá
impressão que vão estender uma toalha e fazer um piquenique.
-Eu
acho que bom mesmo deve ser manequim de loja popular.
-Deixa
de ser otária, manequim de lojinha é cabide.
-Oh
Pierre, você que é chegado do dono da loja poderia falar com ele para fazer uma
maquiagem na gente. Um batonzinho básico e uma peruca bem transada vão realçar
ainda mais os nossos modelitos.
-Deus
me livre, todos vão querer nos imitar! Já nos bastam aquelas manequins
magricelas que andam de um lado para outro mostrando roupas ridículas achando
que estão abafando
-Ninguém
compra!
-Aqui
na loja eu nunca vi, e na rua será que alguém viu?
-Essas
roupas só servem para as ricaças vestirem à tarde, entrarem em um carro de
luxo, e à noite tirarem para seus amantes dando gargalhadas pensando no
paspalho do marido que pagou a conta.
-Ah! Se
manequim de loja pudesse falar. -Eu ia pedir para o idiota sentado aí parar de
olhar para as minhas pernas, que pela sua cara ele está imaginando coisas.
E eu estava
mesmo. Pensando...
Como é
dura a vida de manequim.
Principalmente
daqueles que desfilam pelas ruas vestindo roupas de grife, ostentando um padrão
de vida que veem somente nas novelas e que só existe no seu imaginário.
muito legal - e engraçado - esse texto! adorei! tambem ja pensei muitas coisas sobre como seria o pensamento de um manequim, é algo tão curioso não é mesmo?
ResponderExcluirum abraço, agradeço pela visita em meu blog, aceito sugestões de postagens (não precisa ser sobre moda ta, porque posso postar no outro blog) seja bem vindo aos meus blogs!