
DIA NACIONAL DA LUTA CONTRA A
ENFERMIDADE
Fui “intimado” a escrever um
artigo sobre o dia do enfermo que acontece em onze de fevereiro.
Que coisa mais absurda!
Trabalhando três anos dentro de
um hospital público nunca ouvi falar sobre esse dia.
Que dia mais sem graça.
Imagine alguém deitado em um
leito de um hospital recebendo uma cesta de café da manhã com um bilhetinho
dizendo: parabéns pelo seu dia. Imagine uma pessoa em sua casa se recuperando
de uma doença, e de repente ver um carro de som parar em sua porta soltando
foguetes, e um locutor gritando para todos os vizinhos escutarem: Hoje é o seu
dia, espero que se recupere logo, esses são os votos da sua esposa (o), ou
namorada (o) que muito te ama.
O telefone toca e uma voz
melodiosa pergunta: é a dona Patrícia? Nós estamos ligando porque um alguém muito
especial quer comemorar este dia com a senhora, parabéns pelo seu dia, espero
que se recupere logo, do seu marido que muito te ama.
Façam-me um favor!
Deveríamos formar uma corrente
para trocar este nome, o mais correto seria instituir o dia nacional da luta
contra a enfermidade.
Aí sim.
Seria um dia que valeria a pena
ser lembrado.
Quero lembrar que em algumas
cidades com serviço de hemodiálise existe uma Associação dos Hemofílicos. Ela
exerce um excelente papel de vigilância no atendimento às pessoas que
necessitam de uma máquina para filtrar o seu sangue duas ou mais vezes por semana.
Qualquer deslize de um funcionário deste setor, um mau atendimento a um
paciente, a quebra de uma máquina, a falta de material que vá causar o
agravamento do estado de saúde do paciente, quando comunicada à associação,
imediatamente as autoridades são acionadas, e se o caso for mais grave, são chamados
os órgãos de imprensa para denunciarem o ocorrido. Esta associação deveria se
expandir para todos os hospitais e pontos de atendimento de emergência, para
que os pacientes de todas as especialidades médicas tivessem o mesmo direito de
defesa.
Se não for possível, para não
perder o foco, que incentivassem a criação de outras associações como as de
todas as especialidades médicas. A dos pacientes que chegam de madrugada e ficam
horas e horas na fila de um posto de saúde. A dos pacientes com câncer, onde
uma mulher, depois de um exame de mama que detectou um câncer, ter de esperar
seis meses ou mais por uma cirurgia, e um dia antes da operação o telefone tocar,
e uma voz educada do outro lado dizer: É a dona Maria? Estamos telefonando para
avisar que a sua cirurgia foi cancelada porque a máquina quebrou.
Esta mentira encobre a falta de
um fio cirúrgico que custa doze reais. E a mulher perde uma parte importante do
seu atrativo sexual, se sente mutilada no corpo e na alma, única e
exclusivamente pela falta de sensibilidade de pessoas que nunca levarão suas
esposas e filhas a um hospital público para tal procedimento.
O mesmo acontece com o homem
humilde, ou machão, que relutou muito antes de levar uma dedada, e tem a sua
cirurgia de próstata cancelada pelo mesmo motivo, e morre como um cachorro
sarnento que ninguém quis cuidar.
Se todas essas associações fossem
criadas para lutarem pelo direito dos enfermos.
Aí sim, este dia teria sentido.
Se essas associações forem
criadas, a saúde pública vai dar um salto de qualidade porque os sacanas que
gerenciam a vida das pessoas como matéria prima descartável pensariam duas
vezes antes de deixarem as prateleiras dos almoxarifados vazias. E pensarão
duas vezes antes de chegarem à conclusão que o curativo é um item muito caro e
não faz falta.
Se essas associações fossem criadas
iriam beneficiar os profissionais da saúde comprometidos que veem vidas
preciosas escaparem de suas mãos impotentes por falta de um antibiótico, ou de
um material médico, e é obrigado escrever no atestado de óbito que a causa
mortis foi uma falência múltipla de órgãos.
Se o nome desse dia puder
realmente ser trocado para DIA NACIONAL DA LUTA CONTRA A ENFERMIDADE ele passará
a ser um dos mais importantes do nosso calendário, porque nesse dia, as
associações convocarão todos os enfermos em condições de andarem, e seus parentes.
Convocarão os profissionais da saúde, e os que lutam por um país mais justo a
irem para a porta dos hospitais, dos postos de saúde e de pronto atendimento
para protestarem contra o sucateamento de todo o sistema. Sistema que depois de
se transformar em SUS (Sistema Único da Sacanagem) igualou pobres e ricos com
os mesmos direitos. Isto é, os ricos conseguem consultas à hora que bem
entendem, encomendam por telefone medicamentos distribuídos de graça, ou vão pessoalmente buscarem o que deveria ser dos
mais pobres, Enquanto isso os pobres ficam com a sobra onde um simples remédio
para hipertensão quase sempre não está disponível para quem sustenta com suor e
lágrimas a escória política deste país.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Aqui você é muito bem vindo. Seu comentário ajuda na construção desse espaço de liberdade