A TRISTEZA E O ABANDONO NÃO TÊM ROSTO |
Andei como só os vagabundos andam. Não tinha
ilusões. Não tinha destino, andei por andar. Nessas andanças sem rumo vi
gente de todos os tipos, vagabundos pobres e ricos, favelados e moradores de
mansão. Vi a divisão dos homens e os desencontros de todos os dias.
É fácil perceber esta divisão. As pessoas se dividem pela cor, religião, cultura, e volume do bolso. Para alguns o cartão de crédito é o melhor documento de identidade. O aspecto físico também diferencia. Muitos tem cara de fome, em sua maioria, doentes assíduos frequentadores das filas do SUS. Outros com caras alegres vivem de barriga cheia e alimentam seus cães com iguarias que a maioria dos pobres gostariam de terem para não morrerem de fome.
É fácil perceber esta divisão. As pessoas se dividem pela cor, religião, cultura, e volume do bolso. Para alguns o cartão de crédito é o melhor documento de identidade. O aspecto físico também diferencia. Muitos tem cara de fome, em sua maioria, doentes assíduos frequentadores das filas do SUS. Outros com caras alegres vivem de barriga cheia e alimentam seus cães com iguarias que a maioria dos pobres gostariam de terem para não morrerem de fome.
Pobres e milionários se misturam na mesma caminhada,
mas raramente seus caminhos se cruzam. Cada um segue o seu, ambos pensando no
dinheiro. Os ricos, a minoria que detém toda a riqueza do país, vivem
preocupados em ganhar sempre mais. Muitos fazem do pobre um trampolim para
alcançar seu objetivo. Os remediados, chamados de classe B, que sustentam esse
país com seu trabalho pagando juros abusivos, e os que estão no limiar da
miséria vão tentando darem um jeitinho para viverem com dignidade.
Hoje não tinha médico no posto!
O que vou comer?
O que vou vestir?
Não tenho dinheiro para a condução!
O gás acabou!
Estas frases são ditas a todo o momento pelos
partidários da fome, e só Deus sabe o quanto esse partido é numeroso. E pouca
gente se preocupa com isso. Os políticos inventaram um monte de tíquete
disto e vale daquilo, que invariavelmente são distribuídos a seu bel prazer como
moeda de troca eleitoreira.
Estou com fome! Quantos meninos e meninas não
foram surrados ao pronunciarem esta frase? E nós falamos que o pai e a mãe
são estúpidos. Muitos são. Não estamos no lugar deles que ao receberem seus
salários, quando os tem, percebem que mal dará para pagar o aluguel. Quando o
filho sai para esmolar, dizemos que é um absurdo. Mas quando o pai ou a mãe se humilham esmolando
para matar a fome dos filhos, somos os primeiros a chamá-los de vagabundos dizendo
que são fortes e podem trabalhar.
Pedir esmola...
Pedir pelo amor de Deus!
Mesmo em nome de Deus, não existe nada mais
humilhante.
O problema é que o ser humano se acostuma até com o
que humilha.
Fome!
Alguns de nós ao chegarmos em casa na hora do almoço, já recebemos a notícia que não foi preparado porque o gás acabou e não tinha dinheiro para comprar? Alguns dizem: Porque não catam uns gravetos e acendem um fogo? Como e onde fazer isso todos os dias?
Alguns de nós ao chegarmos em casa na hora do almoço, já recebemos a notícia que não foi preparado porque o gás acabou e não tinha dinheiro para comprar? Alguns dizem: Porque não catam uns gravetos e acendem um fogo? Como e onde fazer isso todos os dias?
Alguns de nós já fomos para cama tentando dormir sem
sequer termos tomado um simples cafezinho durante todo o dia?
Ficamos indignados quando os noticiários jogam na
nossa cara a imagem dos famintos dos países mais pobres, da África, por exemplo.
Eles existem.
Os países.
Os famintos.
Neste país do desperdício chamado brasil não é
preciso ir longe para ver cenas de guerra. Bem na nossa porta tem alguém
passando fome, e não adianta fazer mutirão para arrecadar alimentos. Isto é
muito salutar, mas é como febre, passa logo. É preciso dar dignidade e condição
de vida para que o nosso povo pare de viver de esmolas.
FOME.
Esta palavra já deveria há muito estar banida dos
dicionários. Existem muitos campos abandonados. Existem muitas terras a cultivar.
E os homens fabricam armas e constroem robôs que substituem o ser humano nas
grandes empresas. É preciso diminuir o custo dos manufaturados que aumentam os
lucros. Mas em contrapartida, os custos sociais com o desemprego e o
desamparo do trabalhador vão produzindo mais miseráveis.
Os ricos não se preocupam com o amanhã.
Os pobres vivem de esperança.
Esta é uma das raras vezes que seus caminhos se
cruzam.
Todos nós vivemos de esperança.
E a esperança é Deus que sempre nos mostra por parábolas
que a estrada para a luz precisa ser percorrida por todos. E que a intensidade
do brilho desta luz vai depender da maneira como nós tratamos o nosso
semelhante. E que para não sermos ofuscados por esse brilho precisamos
diminuir a distância que nos separa, para quem sabe um dia, possamos sermos
acolhidos no abraço da ternura que nos criou à sua imagem e semelhança.
Que no relacionamento de amor, a palavra dividir
seja usada para repartir os bens. Que no relacionamento da fraternidade todos
sintam-se incomodados quando um irmão estiver passando fome, ou sofrendo
qualquer tipo de humilhação
Que não haja mais divisão entre os homens.
Que nenhuma criatura sinta-se maior ou melhor que a
outra.
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