Eu
poderia estar escrevendo um texto mais ameno e com menos palavras duras, mas
quero deixar aqui o meu desabafo para que muitos idosos tenham coragem de não
se deixarem dominar pelos filhos e por outros parentes.
De
manhã, durante a caminhada, conversei com o Sr. Manoel, um velhinho simpático
com oitenta anos, viúvo, que mora sozinho, e que todos os dias faz uma
caminhada de aproximadamente quatro quilômetros. Há uns meses atrás lhe
perguntei como era sua vida e a sua resposta foi o retrato da realidade que
assombra a maioria dos idosos deste país das desigualdades: “Os filhos e
netos acham que a gente não precisa do dinheiro da aposentadoria para
viver”. De cada dez pessoas aposentadas,
oito podem dizer a mesma coisa, e quanto maior for o valor da aposentadoria
mais violência e abandono elas sofrem. Muitos idosos e idosas que se
aposentaram, muitas vezes são reféns de seus filhos e de outros parentes. Mesmo
com esse problema o senhor Manoel continuou com sua vida tranquila e arranjou
uma nova companheira com quem viveu alguns meses e voltou a morar sozinho com
sua solidão, sua religião, sua simplicidade e tranquilidade que me causam
inveja. Hoje ele me disse que uma de suas filhas separou-se do marido e voltou
para sua casa trazendo três filhas adolescentes, e o que mais me
impressionou foi sua tranquilidade ao dizer que continua arrumando a casa,
cozinhando e lavando a roupa, inclusive das quatro "intrusas" que
agora se acham donas do pedaço. Eu lhe disse que deveria tomar uma
atitude mais enérgica para mudar essa situação, e a sua resposta foi ainda mais
surpreendente: “Sr. Geraldo, Jesus mandou a gente ajudar os outros e eu
não posso abandonar minha filha e minhas netas”.
Ainda
contagiado pela lição de amor ao próximo que recebi do Sr. Manoel, indignado
com a maneira de como ele é maltratado dentro do seu própria lar, me despedi
dele e fui caminhando para casa. Se eu já estava indignado com a situação do
Sr. Manoel, nesse mesmo dia a minha indignação aumentou ainda mais
ao conversar alguns minutos com uma senhora que levava sua neta à escola.
Parecia o segundo capítulo de um filme de terror que amedronta milhares de
barracos e mansões todos os dias. Ela me falou que cuida de cinco netos e que
há alguns meses fez um empréstimo para ajudar um dos filhos a construir um
apartamento em cima da sua casa. E desfilando um rosário de tristeza disse que
outro filho vai se casar e que construiu um barraco no fundo do quintal para
que ela se mude para ele porque o sem vergonha irá ocupar a casa da frente que
antes era dela. Foi muito fácil perceber que este filho é mais um desses que
acham que lugar de velho é em um quartinho dos fundos onde se acumulam as
sucatas. Pensando em como descrever essas aberrações, o dia foi passando
e coincidentemente o noticiário da tarde mostrou uma reportagem sobre o
aumento da violência contra os idosos.
Aí,
a minha indignação extrapolou os parâmetros da paciência.
Os
números mostravam apenas os que chegam às delegacias de "Proteção ao
Idoso", um órgão fictício que existe somente para dar emprego e para
mostrar para a mídia e para o povo que o governo está "preocupado"
com sua população envelhecida.
Milhares
de senhores Manoeis estão espalhados por este Brasil de carnaval e hipocrisia.
E este
é o retrato e a realidade nua e crua de milhares de pessoas que tiveram a
ousadia de envelhecer e que os nossos fazedores de leis são tão, ou mais
sacanas que muitos filhos que fazem do nosso país o berço esplêndido das
sacanagens e da injustiça.
Eu
poderia escrever dias a fio, mas vou parar por aqui.
Na
minha modesta opinião, consegui retratar o JEITO DE VIVER DO
IDOSO BRASILEIRO
Olá, Geraldo!
ResponderExcluirQue triste e dura realidade, que você descreve em seu texto. Idoso é considerado "lixo", portanto "hiberne" no quartinho, bem pequenino, dos fundos.
E esses filhos/as falam de Deus e da igreja que frequentam. O k lhes é lá ensinado, lá
Em Portugal, há um provérbio k diz: pai e mãe têm uma peneira, um véu bem opaco, pra você entender, k não deixa ver as incorreções e defeitos dos filhos. O Sr. Manoel e a D. Maria são os protótipos dessa horrenda e interminável "novela".
Bom fim de semana.
Abraços.
Olá Geraldo! É realmente lamentável! A partir do nascimento a pessoa começa a pagar imposto até do ar que respira. Cresce, trabalha durante toda a sua vida enquanto pode, põe filho no, procura dar o melhor possível, e o resultado é um quartinho nos fundos, até o dia da visita dos bichinhos famintos, residentes na terra. Belo, profundo e pertinente texto para a atualidade.
ResponderExcluirAbraços,
Furtado.
Ah, Geraldo, eu tenho visto idosos serem tratados como cão sem dono, pois alguns cães são melhor tratados que certas pessoas. Os estatutos são frios feito por gente frias, que apenas criam e deixam ai bel prazer dos humanos(sic). Assim é a mulher neste país onde ainda vive sob uma ditadura masculina, os menores são lançados ás feras do cotidiano. O Estado lava as mãos.
ResponderExcluirSe fizer uma pesquisa por este imenso Brasil vamos tomar um susto enorme com a condição de vida de nossos idosos. É possível até encontre alguns acorrentados.
Seu grito tem eco amigo.
Um abração.