Moro a quarenta minutos de Belo
Horizonte, a capital das Minas Gerais. Não gosto de cidade grande. Só visito a
capital quando é imprescindível resolver algum problema, ou fazer alguma coisa
que não consigo na minha cidade. Hoje foi um desses dias. Andando pelas ruas,
nove horas da manhã, com um sol de primavera bronzeando o corpo de quem mora
onde não tem praia. Fiquei observando os donos do mundo, ou os do mundo sem
dono, dormindo debaixo das marquises.
Exatamente como acontece em todas
as cidades do nosso país, e em praticamente todos os lugares do mundo.
Homens, mulheres, e crianças,
drogados, bêbados, ou simplesmente abandonados.
Pela família.
Pelas igrejas.
Pelo sistema.
Ou por eles mesmos.
Dormindo o sono dos justos como se
estivessem em um hotel sem estrelas, ou de muitas estrelas que enfeitam sua
noite. Não se importando com o burburinho de pessoas e veículos no vai e vem de
uma cidade que é a terceira maior do país. O sol bate forte em seus rostos
queimando suas peles já acostumadas com as agruras da natureza.
Mesmo assim não acordam.
Parece que suas pernas estão
dizendo para não acordar, porque estão pesadas demais, e cansadas de andar para
muitos lugares, ou para lugar nenhum. Parece que suas mãos estão dizendo
para não acordar, porque estão cansadas de se estenderem para o passante, e
sempre serem recolhidas vazias de tudo, principalmente de amor. Parece que
seu estomago está pedindo para não acordar, porque está cansado de sentir fome,
e quando bate aquela vontade danada de comer alguma coisa, tem que se alimentar
com a esmola, ou com o resto que não serve nem para o cão sarnento que também
mora na rua. O coração parece lhe dizer para não acordar, porque está cansado
de bater sem nenhum motivo, e quando se bate para o nada, é nisso que a vida se
transforma, um emaranhado de pensamentos sem sentindo misturando as ideias,
muitas vezes, nem sabendo quem é, de onde veio, e para onde vai. O
subconsciente também está implorando ao cérebro que não acorde para isso que
chama de vida. Vida sem sentido e sofrida, e que alguns chamam de liberdade. Parece
que o corpo inteiro, numa sintonia de entrega, está pedindo à alma para
abandona-lo, evitando que acorde. Porque sem a alma, o sol já não queima, a
indiferença já não machuca, e a fome deixa de ser um fantasma.
As horas vão passando e aumentando
o calor, o barulho do vai-e-vem vai ficando cada vez mais alto, e os olhos
começam a piscar em mais um despertar de dor.
Sem cama.
Sem família.
Sem um simples café da
manhã.
Sem amanhã!
Com “vizinhos” passando apressados
preocupados com suas vidas.
É preciso acordar!
A gente não tem o poder de dispor
da vida ao nosso bel prazer. E como num passe de mágica, ou realmente em
uma perfeita sintonia entre o profano e o sagrado, a fé de acreditar naquilo
que não vê materializou o milagre que transformou a desgraça em felicidade. E muitas pessoas, lutando contra todas
incertezas, e sem a mínima chance de ver sua vida mudar, humildemente
conversando com o Criador deixam-se tocar e se levarem pelo Espírito Santo que
liberta. E sentindo-se tocados pela luz
que não queima, conseguem sair das ruas, e hoje levam uma vida diferente
daquela que pensavam ser o seu jeito de viver para sempre. E para o espanto de
muitos, milagres da vida real já tiraram muitas pessoas desta situação.
Agora... Seus endereços não é mais: ignorado, ou
debaixo da marquise tal.
É preciso que a Luz que não queima
continue derramando seu espírito para que em algum lugar, e em algum momento mais
alguém seja atingido por este raio, e algo de concreto possa ser feito para que
as ruas das grandes cidades deixem de ser depósito de lixo de homens,
mulheres, e de crianças imagens e semelhanças
de Deus.
Não precisamos esperar os milagres
acontecerem, se todos se derem as mãos em uma união fraterna para instalar o
reino de Deus novamente neste mundo, muitos de nós poderemos ser os
intermediários desses milagres.
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