17 setembro, 2010

CADA VOLTA DO NOVELO




Dias a fio tecendo uma blusa para a neta
um par de meias para o neto
com a agulha presa em mãos que tremem
a vontade de tecer faz a fiandeira viver

Catarina, com mal de Parkison
com um olhar aguçado que olha há oitenta anos
chora com medo da polícia
conversa com os visitantes
e com a agulha de tricô desenha esperança.
 
De todas as formas, e até em ponto de cruz
tecendo o que e como quiser
reza e pede que Deus a ilumine
porque tecendo quer viver

Linhas viram colchas das camas dos filhos e netos
e foram tecidas com a paciência
que une cada volta do novelo
como se tecesse para uma rainha adormecer

E assim, mesmo com toda a modernidade
da tecnologia que cria cores e formas artificiais
as valorosas bordadeiras e tecelãs
mostram para as futuras gerações
que nada substitui as agulhas
que desenham o que cada uma traz nos seus corações



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