
Fico
observando o semblante dos moradores do asilo com seus olhares perdido no nada.
Às cinco horas da manhã a casa começa a ouvir passos nos corredores. Os que
conseguiram dormir começam a acordar para mais um dia de andanças de um lado para outro. Alguns sentam-se em frente à
porta do refeitório esperando a hora do café.
Um televisor é ligado apenas para colocar imagem e cor no preto e branco
da vida de quem foi abandonado. Os que têm algum problema mental estão no céu.
Os que ainda pensam estão no purgatório para terem tempo de se lembrarem dos
motivos que fizeram deles um morador na casa de ninguém, e de todos.
Alguns
vieram porque não souberam serem pais, outros porque os filhos não quiseram serem
filhos.
De vez em
quando uma lágrima teima em rolar por entre as rugas caída dos olhos que já esqueceram o que é chorar. Alguns gritam a todo instante que querem voltar
para suas casas. Mesmo nas suas insanidades sabem que deixaram algo para trás.
Os que não tem filhos estão no paraíso. Os que ainda tem filhos e netos na
lembrança estão no limiar da indiferença que machuca. Alguns não querem tomar
banho. Se arrumarem para quem?
O carinho
dos funcionários, dos voluntários e dos poucos visitantes não é bastante para suprir a
ausência de quem foi gerado e visto crescer.
E o dia vai
passando na vida de quem já não sabe medir o tempo. Hora do almoço. Uma oração
mecânica, para muitos, pede ao Todo Poderoso que abençoe o alimento e o resto
de vida de cada um. Mãos estranhas levam
a comida na boca de quem fez isso centenas de vezes para que quem o colocou no
asilo pudesse ter chegado aonde chegou. E que neste momento deve estar em casa
almoçando tranquilamente, sem ao menos se lembrar do estorvo que atrapalhava seu almoço.
Os que
conseguem dormir voltam para suas camas, enquanto os outros sentam-se novamente
em frente à televisão como se estivessem entendendo alguma coisa.
E quando um
filho vem visitar a mãe ou o pai, coisa rara, principalmente aos sábados e
domingos, algumas cenas são patéticas. Nenhuma emoção. Nenhum abraço que
emociona!
Trocam
algumas palavras como se o ser gerado fosse apenas mais uma visita para aquela
que foi sua primeira moradia, ou para aquele que num momento de tesão e de
ternura, ou só de tesão, fez com que este milagre fosse possível. Os que
conseguem vislumbrar o firmamento não sabem que um Deus que tudo vê os esperam,
e que este purgatório é realmente a sua porta de entrada.
Tem tarde de
domingo que o ambiente e o silêncio são um martírio.
Os moradores
não conseguem conversarem uns com os outros, e nenhum visitante se digna
aparecer. A grande maioria não se lembra das palavras do Mestre: Eu estive
preso e me visitastes.
Aqui os
moradores são prisioneiros do tempo, da idade, e dos erros e acertos na criação
dos filhos. E por terem tido a ousadia de envelhecerem, agora estão presos com
algemas de caridade, de perdão, e de ternura quando agridem os funcionários que
agora cumprem o papel que seria do filho ou da filha.
OI GERALDO!
ResponderExcluirMUITOS FILHOS TERIAM QUE LER E SE DEIXAREM LEVAR PELO AMOR POR AQUELES QUE LHES DEU A VIDA,O ALIMENTO,O VESTUÁRIO E PRINCIPALMENTE O AMOR, SEM NADA PEDIR EM TROCA.
ABRÇS
Zilanicelia.blogspot.com
Click AQUI