17 agosto, 2010

A TEIMOSIA DA ÁGUA



             
É assim e aqui que moram os filhos de Deus




            Este lixo foi devolvido para as pessoas que precisam reciclar suas vidas.

A água brota da terra para dar vida ao mundo e aí começa mais um mistério de vida e de doação. 
É um novo: “Faça-se em mim segundo a sua vontade”.
E devagarzinho ela vai ganhando corpo, incorporando novas águas, formando córregos, riachos, lagos e rios caudalosos que correm para os mares que nos encantam. 
Enquanto ela faz parte da natureza dentro de uma mata fechada, no alto de uma montanha ou no fundo de um vale ela é pura e casta. E aí deparamos com um outro mistério, ela corre para matar a sede de quem tem sede, irriga os campos para matar a fome de quem tem fome e se compara com Aquele que nos disse: “Eu vim para que todos tenham vida".  
Ela corre para nos salvar, mas quem quer a salvação?  
Antes de entrar em contato com o ser humano ela descia as encostas cantando sobre as pedras uma melodia que acalmava e acalentava os corações e as almas inquietas. 
Ela não pode parar! 
A sua sina é penetrar no meio das pessoas porque nascemos mergulhados nela e poucos sabem que somos mais água do que massa. 
O seu destino não é ficar escondida no fundo das cavernas, no meio da selva ou no cume das montanhas. 
Ela nasce para servir! 
Quando a sua inocência cristalina é levada pela correnteza até as grandes cidades visualizamos mais um mistério. Sua intimidade é invadida e seu leito é coberto de lixo e de entulho e seus peixes foram substituídos por animais peçonhentos. Esses mesmos  peixes que se juntaram aos cinco pães para alimentar as multidões e que  hoje morrem asfixiados pelos dejetos industriais carregados de veneno. E mais uma vez nos foi e continua sendo dado o direito de escolha: “Manda a lei que eu solte um prisioneiro, quem vocês querem que eu solte"? E a vida daquele que morreu por todos nós foi trocada pela a de um malfeitor. 
Assim acontece com a nossa irmã água. 
Fomos novamente chamados a escolher entre a preservação da natureza  ou o progresso devastador. E mais uma vez fizemos a escolha errada e a condenamos a seguir seu caminho no meio de uma pasta gosmenta e a ficar exposta no meio do estrume da nossa ignorância. 
Sua carga ficou pesada demais, como a cruz outrora também pesou. Teimosa, ela insiste em correr no seu leito profanado, mesmo quando ele é desviado do seu curso natural para dar lugar a uma obra qualquer que trará visibilidade política para alguém que não sabe o que é preservação. Ela continua seu calvário até que a ignorância suprema a impeça de prosseguir, e morrendo, não consegue mais abrir o caminho para salvar aqueles que a agrediram. 
“Seus netos vão lhe perguntar em poucos anos pelas baleias que cruzavam o oceano”, já nos alertava o Rei Roberto Carlos na década de setenta. 
Alguém ouviu este aviso?  
Meus filhos não conhecem os filhos do rio que também são teimosos como a mãe e insistem em cumprir o destino de “alimentar esta gente". 
Eu tenho saudades da água da minha infância. da cisterna, do riacho, da lagoa e do rio. 
É claro que não quero que tudo volte a ser como era antes, mas se não nos importarmos e não defendermos a nossa irmã  água que está dentro de nós e em tudo aquilo que vemos e tocamos, e que sabemos que um dia vai secar, estaremos condenando nossos filhos e netos a sofrerem o mais terrível dos martírios.
 


3 comentários:

  1. Precisamos salvá-la de nossa própria inconsciência.
    Obrigada pela visita.

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  2. Olá, Geraldo.
    Tem uma homenagem para você lá no blog.
    Abraços

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  3. Geraldo, precisamos salvar-nos para salvarmos o que resta de natureza, ainda.

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