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NASCENTE DO SÃO FRANCISCO |
Toda manhã faço um trajeto de meia
hora para pegar o ônibus que me leva ao trabalho, não é por falta de condução e
sim pelo prazer de caminhar.
A pista de caminhada, muito bonita
feita pelo homem, margeando um rio muito feio, cuja feiura também foi causada
pelo homem.
Apesar de tudo, ainda é um bom lugar
onde centenas de pessoas caminham para manterem o corpo em forma.
Todos elogiam a pista.
Poucos prestam atenção no leito profanado
de um rio que insiste em ser referência: “A pista é ao lado do rio Betim.
Eu não sei como alguém consegue continuar
usando o rio como referência.
As pessoas conseguiram trocar o rio,
pela pista que é realmente muito bonita.
O rio também já foi!
Será que todos já nascem sabendo como
agredir a natureza?
A minha cidade tem coleta seletiva do
lixo.
Muitos não separam.
Outros colocam o lixo antes do
horário e fora do dia de coleta.
E ele se espalha.
Como um lixo pode se espalhar
sozinho?
Ele é espalhado pelas pessoas que que
consomem alimentos e jogam as embalagens nas ruas. Espalhado pelos pobres, que
se igualando aos cães sarnentos, buscam nas lixeiras alguma coisa para matar
sua fome.
É muito difícil mostrar para a
maioria das pessoas, principalmente aos mais jovens, que é preciso preservar a
obra prima que foi concebida quando Deus olhou e “Viu que tudo era bom”.
Eles não sentem saudade.
Eles não conheceram um rio de água
cristalina.
Os meus filhos nunca “mataram gambá”
em nenhum quintal, acho até que essa expressão não existe mais. Nunca comeram
um pêssego ou um caqui apanhado direto do pé, e de preferência no quintal do
vizinho. Não sabem o que é gabiroba, cagueitera, araçá, gabiroba e tantas
outras frutas comuns nos lugares agora habitados
Nunca viram um moinho movido a
água.
As fotos só falam para quem viveu na
época do seu clique. Mostrar a foto de um ex-rio, uma ex-mata, um
ex-animal, não consegue provocar sentimento de revolta, o máximo que alguém vai
dizer é: Era muito bonito.
E era!
Só preserva quem sente saudade.
Felizes nós acima dos cinquenta, que
vamos morrer levando na lembrança um pouco da beleza primitiva do que Deus
criou para todos. Infelizes nós que vamos morrer deixando como herança
para as futuras gerações uma natureza morta, simbolizada apenas por um quadro
na parede ou um filme guardado em uma gaveta. Nós, da geração que está indo
embora, não fomos bons professores. Quando não ajudamos diretamente na
destruição, também não lutamos e nunca exigimos respeito à natureza. Ecologia era
palavra proibida, e não soubemos captar sua essência para repassar aos nossos
filhos.
E quando formos questionados pelo
Artista maior, o que diremos?
Foi preciso desmatar para construir
casas.
Foi preciso desmatar para construir
móveis.
Foi preciso desmatar para construir
fábricas e dar empregos.
Foi preciso desmatar as margens e
desviar o rio para construir estradas, pontes e usinas
Tudo foi concebido para o homem, e
tudo foi destruído pelo homem.
Ninguém terá coragem de dizer: tudo
foi destruído pela ganância, tudo foi destruído pelo maldito dinheiro que desde
a criação, mesmo com outro nome, já corrompia a mente do ser humano.
Ainda dá tempo...
Se os jovens quiserem consertar o que
estragamos, e reconstruir o mundo a partir da lição que não tiveram. Se quiserem
lutar pela ecologia e esquecerem a lógica da concorrência frenética por status
e dinheiro, a vida na terra ainda pode durar alguns séculos, do contrário,
quando também chegarem à velhice, todo o conhecimento adquirido, toda a
tecnologia alcançada e toda fortuna acumulada não serão capazes de encher um só
copo de água.
Que o Deus que nos criou para cuidar
de toda a sua criação, perdoe-nos, e que as futuras gerações possam renovar a
aliança com este mesmo Deus.
Como fez Francisco de Assis, que
abandonou sua vida de riqueza para cuidar dos pobres e ser o maior defensor da
natureza de todos os tempos.
Como fez Chico Mendes que deu a vida
para defender o que era de todos
Concordo contigo. Precisamos proteger a água de nossa própria inconsciência.
ResponderExcluirAbraços.
Ana Rocha
Líder de Processos da Embasa (Empresa Baiana de Águas e Saneamento Básico do Estado da Bahia)