QUE NÃO PENSA NA FAMÍLIA COMO UM TODO |
Este texto foi escrito em 2006,
logo após me demitir de um cargo comissionado que ocupava no almoxarifado do
hospital regional da minha cidade.
A gente se acostuma! Frase
repetida inúmeras vezes todos os dias nos hospitais públicos.
Sei que muitas vezes escrevo
baboseiras, talvez por falta de conhecimento acadêmico, mas, sempre escrevo
sobre aquilo que me incomoda, e ultimamente esta frase está muito presente na
minha vida. Sempre me pego questionando porque não frequentei uma universidade.
E também muitas vezes acho que valeu a pena não ter me transformado em um
doutor.
Doutor não sei de quê.
Que me desculpem os profissionais
que enfrentaram anos de estudo madrugada adentro para conseguirem um diploma. O
problema é que o diploma não ensina lutar, pelo contrário, muitas vezes ele
engessa pensamentos e ações.
Porque o serviço de saúde do país
é ruim?
A culpa é só do governo que se
preocupa apenas com obras que dão visibilidade, e acha que o cemitério é o
lugar ideal para enterrar os problemas?
Quando alguém morre por falta de medicamento
ou de material médico, e o atestado de óbito esconde a verdade, a culpa é de
quem? Quando um hospital fica um ano sem
comprar curativos, e alguém diz que é um item muito caro, e liberam pacientes
cheios de escaras para morrerem em um barraco de dois cômodos, a culpa é só de
quem não comprou? Quando alguém espera por uma cirurgia de próstata, de mama,
ou de um tumor em qualquer parte do corpo, e recebe um telefonema cancelando
com a desculpa esfarrapada que a “Máquina quebrou”, escondendo a falta de um
fio cirúrgico de R$ 10,00 que não foi comprado, a culpa é só de quem não
comprou?
De quem realmente é a culpa? Do funcionário que não comprou, do governante que
não libera verba, ou do profissional médico que finge não ver as atrocidades
que estão acontecendo? E escrevem que a causa mortis foi falência múltipla de
órgãos?
Porque não denunciar?
Medo de perder o emprego?
Comodismo?
Ou como se diz nos corredores: A gente se acostuma!
Ou como se diz nos corredores: A gente se acostuma!
Vejamos... Dia dezoito de maio é
comemorado o Dia
Nacional da Luta Antimanicomial
Políticos apoiados por Psiquiatras
e os psicólogos decidiram que o lugar do deficiente mental é junto com os
familiares. E onde é o lugar dos familiares?
Em 2001 os manicômios foram
fechados. Neles os doentes eram tratados piores que animais. Por animais
irracionais! Por profissionais pós-graduados
em grandes universidades, e reprovados na faculdade da vida, e maus alunos na
matéria: Ser humano. E outros animais chegaram à brilhante conclusão que a
melhor solução seria mandar os doentes de volta para suas casas.
Para junto da família. Brilhante ideia! E quando não tem casa? E
quando não tem família?
Alguma entidade foi contra, onde
foram parar os manifestos?
E novamente faço outra pergunta.
Onde foram parar os pobres
doentes, e os doentes pobres? Para casa certamente a maioria não foi. E os que
adquiriram a doença depois?
Junto com a família o tratamento
é humanizado? Quando esta família é rica interna o doente em uma clínica
particular, o visitam por um tempo, depois esquece que existe, e está resolvido
o problema.
Quando a família é pobre, suporta
e sofre por algum tempo, depois, sem nenhuma condição financeira e emocional,
colocam seu ente querido em um asilo de caridade, e se isso não acontecer,
em pouco tempo alguns integrantes da família começam a sentir os mesmos
sintomas do parente que foi abandonado pelo sistema.
Esse texto foi escrito em 2006.
Hoje, agosto de 2010, os asilos
de caridade deixaram de existir. Ao fecharem os centros de internação de
doentes mentais, os burocratas decretaram também o fechamento dos asilos de
caridade onde o pobre gozando de saúde perfeita pudesse terminar os seus dias
dançando, passeando, jogando um baralho, fazendo sua ginástica, e até se
enamorando.
Agora todos os asilos de caridade que conheço
transformaram-se em manicômios.
E vem um profissional da saúde,
ou um político dizerem que a palavra asilo está proibida, que essas casas devem
serem chamadas de Lares.
Lar!
Onde estão os filhos, os irmãos, a esposa e o marido, para constituírem este lar?
Onde estão os filhos, os irmãos, a esposa e o marido, para constituírem este lar?
Fui responsável por uma casa dessas
com cinquenta e cinco moradores, onde treze eram acamados, e mais de trinta com
algum distúrbio mental.
Um psiquiatra visita essas casas
regularmente?
Um psicólogo visita essas casas
regularmente?
Onde eles estão?
Nos consultórios acarpetados
esperando um biruta para pagar uma consulta.
Aí criaram os CERSANS. Uma vez
por mês a maioria dos doentes toma um “sossega-leão” para deixar a família
dormir algumas noites em paz. Em alguns casos, eles são recolhidos durante o
dia e devolvidos à noite.
Eu disse recolhidos, porque esta
é a palavra mais adequada que pude pensar.
Minha cidade, com quatrocentos
mil habitantes tem sete camas para acolher estes pacientes. Isso obriga as
instituições de caridade acolherem essas pessoas, e levar à loucura os
moradores lúcidos, os funcionários que não estão preparados, os voluntários que
ficam sem ação, e os visitantes que não voltam.
Cuidar dessas pessoas é uma
obrigação do poder público.
E quem tem plena condição e
conhecimento para lutar contra esta barbárie são os mesmos que apoiaram o não
internamento dessas pessoas, psiquiatras, psicólogos, e assistentes sociais. E
os conselhos de classe, para que servem?
Que continuem fechados os
Manicômios, mas que se abram casas de acolhimento gerenciadas por seres humanos
de verdade, que não precisem votar ou pedir voto para alguém.
Que poderão esquecerem de vez a
frase: A gente se acostuma
Geraldo, outro dia ouvi de um padre que o bem maior que Deus nos deu não é essa vida, e sim a vida eterna, essa vida passa, e devemos sofrer com paciência; com sertesa essas pessôas estam com DEUS, eu tambem vi muitas veses na TV essas pessòas nos manicôimios, tratados não como animais, pois animais são bem tratados, ou eles se viram para sobrevivêr, faz parte da naturesa, não tenho palavras para expressar tamanha crueldade com seres humanos, o que faziam com os doentes mentais, mais com sertesa Deus olha por eles..
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