24 agosto, 2010

A CASA DE BATATAS FRITAS

Acho que realmente sou um velho ultrapassado! Sei que não mais se escreve uma história começando com o “era uma vez”, mas esta eu faço questão de começar assim porque  estou criando e lendo para o meu filho de quatro anos deitado em uma rede iluminada pela luz de uma lua cheia e pelo brilho que vem dos seus olhos. Irei chamar esta criança de João em homenagem a todas as crianças cujos pais não têm tempo ou preferem que fiquem à mercê das redes sociais e dos brinquedos que viciam.  
Era uma vez um menino chamado João, e como sempre sua família fazia,  um belo dia ele foi passar mais uma de suas férias com seus avós que moravam em uma casa muito bonita cercada de árvores por todos os lados nos arredores de uma pequena cidade do interior. Sei que são poucos os lugares onde existam casas de avós para se passar férias sem videogame, sem celulares e sem computadores.
Mas aqui esta casa existe e pode ser chamada de paraíso. Um dia, correndo atrás dos passarinhos o pequeno João entrou no meio de umas árvores e seguindo uma trilha, não é que sem perceber deu de cara com uma casa que ele não sabia como tinha surgido ali. O menino olhou admirado, e espantado percebeu que aquela casa era toda construída com batatas fritas.
Ele ficou tão admirado que não estava acreditando que aquilo fosse verdade, e passado o susto ficou com água na boca.
Não dava para acreditar!
As paredes daquela casa foram erguidas com aquelas batatas compridas e crocantes que se servem na praça de alimentação dos shoppings ou em qualquer restaurante sem que a maioria descubra o segredo de se fazer tão gostosa guloseima. O menino olhou para cima e levou um susto ainda maior ao perceber que o telhado era todo coberto com aquelas batatas quase redondas que a mamãe sempre frita com muito carinho. E quase não acreditou quando viu que o caminho que levava até a porta era forrado com batata palha iguaizinhas àquelas compradas em pacotes.
Ele não resistiu e lambendo os lábios, com um sorriso matreiro, gritou: -Oh, de casa! -Mora alguém aí? E torceu para ninguém atender.
A porta se abriu e um homem alto e mal-humorado veio resmungando. -O que você quer? Não gosto de crianças e não quero que venham comer a minha casa!
-Vá embora!
E furioso entrou batendo a porta com tanta força que deixou escapar aquele cheirinho bom que dava vontade de sair mordendo a casa inteira.
E o João ficou ali abobalhado e sem saber o que fazer. Ele não sabia se ia embora contar tudo para a vovó e para os primos ou atender o chamado do estômago e dar umas boas mordidas naquelas apetitosas paredes.
De novo olhou para cima como quem acredita que Deus existe, e mais uma vez gritou: -Oh, de casa. O grandalhão saiu em passos largos e perguntou: -Você de novo? O que você quer e por que ainda não foi embora? Já disse que não gosto de criança!
- Eu ouvi, disse João, eu só queria conhecer a sua casa e prometo que não mordo nem um pedacinho mesmo que isso me custe muito sacrifício.
Está bem disse o homem, pode entrar!
O menino doido de curiosidade e de medo nem percebeu que o dono daquela deliciosa casa havia permitido a sua entrada, e perguntou: como o senhor se chama? Ele respondeu entre dentes: -Batonildo, e você?
O menino respondeu: -João, e pensou consigo mesmo, só podia ser... Dono de uma casa feita de batatas!
O garoto entrou, e aí sim, quase caiu desmaiado de tanto espanto e de vontade de sair dando mordidas para todos os lados. As paredes eram pintadas com maionese, ketchup e mostarda. A mesa da sala foi feita com enormes hambúrgueres, daqueles que quando virados na chapa inundam o ar com um gostoso cheiro de fome. No entorno da mesa estavam dois enormes bancos feitos de salsichas, daquelas que se viradas no molho trazem o gosto do pecado da gula. Na cozinha, quando as torneiras eram aberta jorravam todo tipo de sucos e refrigerantes tão geladinhos que refrescam até a alma.
- Gostou do que viu? perguntou o dono da casa.  
Adorei, disse João com um ar de quem não está acreditando, nunca vi nada igual! É realmente de dar água na boca e de fazer o estomago roncar.
-Olha, vou te contar um segredo, disse Batonildo. - Esta casa nunca deveria  ter sido encontrada, mas agora que isso aconteceu é preciso que alguém a coma o mais depressa possível, do contrário ela vai desaparecer como num toque de mágica, e como você não consegue fazer isso sozinho acho melhor correr e chamar seus amigos.
E o inquieto João ficou outra vez espantado. E perguntou: Comer a casa, e o senhor onde vai morar? -Ah! Eu tenho que arranjar um outro lugar.
Vá depressa, o tempo está passando!
O menino não perdeu tempo, e com os olhos faiscando de felicidade saiu em disparada rumo à casa da sua avó que aflita o procurava por todos os cantos da fazenda. -Onde você se meteu?
-Eu fui passear na clareira e sabe o que encontrei? Antes que alguém perguntasse ele foi logo dizendo: uma casa feita de batatas fritas.
-Está ficando maluco? Perguntaram todos ao mesmo tempo.
Então ele chamou todos os primos e amigos e saíram em disparada para a clareira. Chegando lá, cadê a casa?
Não existia casa nenhuma! O menino ficou triste e sem saber o que dizer.
Aí descobriram que ele adormecera debaixo de uma árvore e que tinha  sonhado com a tal casa.  
Mas de repente um cheiro muito bom invadiu o ar da clareira e todos correram para casa onde a vovô tinha preparado uma mesa cheia de batatas fritas, de hambúrgueres e de cachorros-quentes e de sucos que todos devoraram com muito apetite.
Seria muito bom se em todos os lugares tivesse uma árvore onde os meninos e meninas pudessem adormecer e sonhar sem nenhuma preocupação. 
Seria muito bom se ainda existissem avós que preparam hambúrgueres e batatas fritas sem se importarem se os netos e netas irão ou não fazerem uma lambança na cozinha.
Deve existir!
Do contrário...
Deus não existiria.

 

5 comentários:

  1. Um que historia deliciosa eu e Pedro adoramos parabén. Abraço; Julia.

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  2. Olá estimado Geraldo,

    Lindo sonho, que o menino João teve.
    Graças a Deus, que depois virou realidade.
    Os avós são muito importantes na nossa vida.
    No meu blog, eu escrevi um texto dedicado ao meu avó materno, de seu nome, também, João.
    Gostava, que o lesse, quando lhe for possível.

    Abraços de luz.

    Mas quantas luzes eu sou? Sou fogo, sou simplesmente, sou que incendeia... Obrigada.

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  3. Êi Geraldo...que texto legal!! Li e fiquei com água na boca. Parabéns pela criatividade.

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  4. Meu digníssimo sogro!! Que prazer eu tenho em ler suas histórias para meu filhos, espero que eles seja tão culto quanto o senhor. Que Deus nos presenteie com sua presença por longos anos.

    Te amo

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