VOCÊ VAI CONSEGUIR LER SEM LAMBER OS LÁBIOS? |
Acho que estou ultrapassado.
Sei que não mais se começa uma história começando com “era uma vez”. Mas esta
eu faço questão de começar assim.
Estou contando esta história
para meu filho, deitado em uma rede iluminada pela luz de uma lua cheia, e pelo
brilho que vem dos seus olhos. Vou chamar este menino de João, José, ou Maria
em homenagem a todos os meninos e meninas que nunca ouviram uma história
contada com carinho. Era uma vez um menino chamado João, que foi passar férias
na casa da vovó que morava em uma casa muito bonita cercada de árvores por
todos os lados nos arredores de uma pequena cidade do interior.
Sei que em muitos lugares
não existe mais casa de vovó para se passar férias sem videogame e computador.
Mas aqui esta casa existe, e
pode ser chamada de paraíso.
Um dia, correndo atrás
dos passarinhos, o pequeno João entrou no meio de umas árvores, e seguindo uma
trilha, não é que sem perceber deu de cara com uma casinha, que nem se sabe
como surgiu ali.
O menino olhou admirado!
E espantado. Percebeu...
Era uma casa toda construída
com batatas fritas.
Passado o susto, deu água na
boca.
As paredes foram erguidas
com aquelas batatas compridinhas e crocantes que se servem na praça de
alimentação dos shoppings, ou em qualquer restaurante, sem que a maioria
descubra o segredo de se fazer tão gostosa iguaria. Olhou para cima e levou um
susto danado quando percebeu que o telhado era feito daquelas batatas quase
redondas que a mamãe sempre faz com carinho. Quase não acreditou quando viu que
o caminho que levava até a porta era forrado com batata palha, iguais àquelas
compradas em pacotes nos supermercados.
Ele não resistiu.
Lambeu os lábios com um
sorrisinho matreiro, e gritou:
- Oh, de casa! - Mora alguém
aí?
Torceu para ninguém atender.
A porta se abriu e um homem
alto e mal-humorado veio resmungando.
- O que você quer? Não gosto
de crianças, e não quero que venham comer minha casa!
- Vá embora! E furioso
entrou batendo a porta, que deixou escapar aquele cheirinho bom que dava
vontade de sair mordendo a casa inteira.
E o João ficou ali
abobalhado, por algum tempo parado sem saber o que fazer.
Não sabia se ia embora
contar tudo para a vovó, ou atender o chamado do estômago e dar umas belas de
umas mordidas naquelas apetitosas paredes.
De novo olhou para cima como
quem acredita: Deus existe!
Mais uma vez gritou:
- Oh, de casa.
O grandalhão saiu em passos
largos e perguntou.
- Você de novo? O que você
quer? Porque ainda não foi embora? Já disse que não gosto de criança!
- Eu ouvi, disse João, só
queria conhecer a sua casa, prometo que não mordo nem um pedacinho, mesmo que
isto me custe muito sacrifício.
Está bem disse o homem: Pode
entrar!
O menino doido de
curiosidade e de medo nem percebeu que o dono da deliciosa casa havia permitido
sua entrada, perguntou: como o senhor se chama?
Ele respondeu entre dentes:
- Batonildo, e você?
O menino respondeu: - João,
e pensou consigo mesmo. Só podia ser... Dono de uma casa feita de batatas!
O garoto entrou, e aí sim,
quase caiu desmaiado de tanto espanto e vontade de sair dando mordidas para
todos os lados.
As paredes eram pintadas com
maionese, catchup e mostarda.
A mesa da sala era feita de
quatro enormes hambúrgueres, daqueles que quando são virados na chapa inundam o
ar com cheiro de fome. No contorno da mesa, dois enormes bancos feitos de
salsichas, daquelas que se viradas no molho trazem o gosto do pecado da gula.
Na cozinha, quando as
torneiras eram abertas jorravam todo tipo de sucos e refrigerantes, tão
geladinhos que refrescam até a alma.
- Gostou do que viu?
Perguntou o dono da casa.
- Adorei, disse João, com ar
de quem não está acreditando, nunca vi nada igual! É realmente de dar água na
boca e de fazer o estomago roncar.
- Vou te contar um segredo,
disse Batonildo.
- Esta casa nunca poderia
ter sido descoberta, agora que isso aconteceu é preciso que alguém a coma o
mais depressa possível, do contrário, ela vai desaparecer como um toque de
mágica. Como não consegue fazer isso sozinho, acho melhor correr e chamar seus
amigos.
E o inquieto João ficou
outra vez espantado. E perguntou: Comer a casa, e o senhor onde vai morar?
Ah! Eu tenho que arranjar
outro lugar. Vá depressa, o tempo está passando!
João não perdeu tempo, com
os olhos faiscando de felicidade saiu em disparada rumo à casa da sua avó, que
aflita o procurava por todos os cantos da fazenda.
- Onde você se meteu?
- Eu fui passear na
clareira, e sabe o que encontrei?
Antes que alguém perguntasse
foi logo dizendo: uma casa feita de batatas fritas.
- Está ficando maluco?
Então ele chamou todos os
primos e amigos e saíram em disparada para a clareira.
Chegando lá, cadê a casa?
Não existia casa nenhuma.
O menino ficou triste e sem
saber o que dizer.
Aí descobriram que ele adormecera
debaixo de uma árvore e sonhou com a tal casa.
Mas de repente, um cheiro
muito bom invadiu o ar da clareira, correram todos para casa, e lá estava uma
mesa cheia de batatas fritas, de hambúrgueres, e de cachorros quentes que todos
comeram com muito apetite.
Seria bom se em todos os
lugares tivesse uma árvore onde todos os meninos e meninas pudessem adormecerem
e sonharem sem nenhuma preocupação.
Seria bom se ainda
existissem avós que preparam hambúrgueres e batatas, sem se importarem se os
netos irão fazer ou não uma lambança na cozinha.
Deve existir.
Do contrário...
Deus não existiria.
Um que historia deliciosa eu e Pedro adoramos parabén. Abraço; Julia.
ResponderExcluirOlá estimado Geraldo,
ResponderExcluirLindo sonho, que o menino João teve.
Graças a Deus, que depois virou realidade.
Os avós são muito importantes na nossa vida.
No meu blog, eu escrevi um texto dedicado ao meu avó materno, de seu nome, também, João.
Gostava, que o lesse, quando lhe for possível.
Abraços de luz.
Mas quantas luzes eu sou? Sou fogo, sou simplesmente, sou que incendeia... Obrigada.
Êi Geraldo...que texto legal!! Li e fiquei com água na boca. Parabéns pela criatividade.
ResponderExcluirmuito bom
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